segunda-feira, 14 de julho de 2008

Da Felicidade

Toda pessoa nasce com um desejo de Felicidade no coração.

Nossa alma foi criada assim, é inevitável. Ninguém em sã consciência busca ser triste. Pode procurar entre seus conhecidos, não vai achar ninguém que tenha como objetivo na vida "ser triste".

Portanto, não há problema algum em querer ser feliz, é antes uma resposta natural ao anseio que nos foi dado pelo próprio Deus. Dificil mesmo é saber onde buscar a felicidade.

Primeiro porque a própria experiência demonstra que a Felicidade a que buscamos não é passageira. No dia seguinte a uma grande felicidade ainda continuamos querendo ser felizes.

Segundo porque, conseqüência do primeiro ponto, a Felicidade não pode esconder em si um mal, não pode ser enganosa, ou muito provavelmente sofreremos.

Terceiro porque nossas almas almejam a Felicidade em seu grau máximo, ainda que estejamos felizes sentimos que o podemos ser mais, e buscamos mais.

Desses três pontos podemos concluir que jamais seremos saciados na Terra (aliás com muita poesia a "Salve Rainha" nos lembra que estamos em um Vale de Lágrimas) o que equivale a dizer que somente estaremos saciados no Céu. Fomos feito para Deus e só nEle encontramos nossa paz.

É uma solução evidente e que deve guiar até as escolhas das nossas pequenas alegrias terrenas, mas que muitas vezes é deixada de lado, trocada, mesmo por quem é cristão.

Quando se opta por ser feliz aqui e agora, tentando alcançar aqueles três pontos em vida, o resultado é sempre catastrófico, mesmo se não levarmos em consideração a danação eterna. Ainda em vida o sujeito sentirá as conseqüências dessa opção. Por quê digo isto? Porque viver é sempre estar em relação com outra pessoa (já repeti isto várias vezes por aqui, já está na hora de aprender :-)) e é incontornável o fato de que vez ou outra a felicidade de uma pessoa corresponda à infelicidade de outra. Viver sozinho também não é uma opção, como diria o poeta: "é impossível ser feliz sozinho".

Para resolver isto as pessoas que não se importam com o além têm que abandonar pelo menos uma das duas últimas características que citei acima.

Uns abandonam a vedação de uma falsa felicidade (aqui no sentido meramente terreno, pois trará tristeza durante a vida) e se entregam aos apetites, geralmente com a maior intencidade e com a maior freqüência que conseguirem, para evitar intervalos muito longos e, com eles, as conseqüências de suas ações. Todavia, os frutos aparecem e então o sujeito fica miserável e entra em um círculo vicioso, aumentando a dose para fugir da tristeza que o persegue.

Uns param de procurar tanto uma felicidade duradoura quanto sua intencidade, vivendo de apetites, mas moderando-os, para evitar sofrimentos muito grandes nos intervalos. Mas como antes, é certo que eles virão.

Um terceiro tipo, por fim, abre mão só da intencidade, ainda querendo que a felicidade dure para sempre, ou o máximo possível, mesmo que em menor escala. É o sujeito que vai fazer de tudo para não sofrer, para não ter desgosto, para não se preocupar, etc.. É, talvez, onde a maioria tenta viver: sem grandes apetites, sem grandes vícios e sem grandes sofrimentos. Ainda não é possível viver sem sofrimentos, mas o mundo moderno tem oferecido cada vez mais ajuda para essas pessoas: Remédios contra a dor, programas de TV, internet, joguinhos de computador, pequenas drogas, individualismo (afinal o outro sempre atrapalha a calmaria total... e nesse ponto talvez Sartre tenha razão, " o inferno são os outros"), etc..

Destes três tipos de pessoas talvez o mais preocupante seja, justamente, este último. Como crianças mimadas nós aprendemos com o castigo, com o sofrimento (é o Bem maior que Deus tira do mal que permite acontecer), em um mundo em que o sofrimento é afastado continuaremos mal-criados, e se para isto abrirmos mão da paixão viveremos quase como zumbis.

Algumas questões continuam em aberto para mim. É possível um mundo sem sofrimento? Acho que não, pelo menos não sem uma droga. Como, num mundo assim, as pessoas deixariam de agir como crianças mimadas? Como, num mundo assim, o Evangelho, que exige necessariamente sacrifício pessoal, poderia ser proposto?

Para as pessoas que optaram a viver no mais ou menos faço um convite/alerta: Há uma felicidade plena, que inclusive pode ser experimentada já em vida, mesmo quando acompanhada de sofrimento.

Um último esclarecimento. De uma maneira ou de outra todos nós buscamos falsas felicidades (do ponto de vista eterno aquilo que não leva à Deus é uma falsa felicidade), mas quem busca Deus não deve organizar sua vida em função delas, mas evitá-las. Tratei aqui daquelas pessoas que buscam saciar o seu desejo de Felicidade em vida e organizam seu viver em torno disto (e como tem cristão nessa onda).

p.s: 1) Quem já leu o "Admirável Mundo Novo" deve se lembrar da vida dos habitantes do futuro imaginado por Adous Huxley, principalmente o "soma", que impedia os ataques da tristeza. Quem não leu, recomendo.

2) Sobre o assunto talvez seja interessante ler também a "Rebelião das massas", de Ortega y Gasset, para entender mais sobre o homem moderno como criança mimada.



"tuu totus ego sum, et omnia mea tua sunt"

Nenhum comentário: