quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Santa Teresinha "apronta" mais uma das suas

Andrea Tornielli deu uma notícia muito interessante no seu blog: Antonio Gramsci, ideólogo do partido comunista, teria se convertido em seu leito de morte.

A revelação foi dada pelo Bispo Luigi De Magistri, que informou que o seu conterrâneo tinha uma imagem de Santa Teresinha do Menino Jesus em seu leito, na clínica em que estava internado: "Durante sua última doença, as irmãs da clínica onde estava levavam a imagem do Menino Jesus para que os doentes beijassem. Não a levaram à Gramsci. Ele disse: 'Por que não trouxeram a mim?'. Levaram então a imagem do Menino Jesus e Gramsci a beijou. Gramsci morreu com os Sacramentos, retornou à fé de sua infância".

É uma revelação muito interessante, esperemos que sirva de exemplo para os seus seguidores, principalmente aqui no Brasil.

Quem conhece a história de minha irmãzinha sabe que essa não seria a primeira vez. Antes de entrar para o convento ela "adotou" um assassino cruel e blasfemador e rezou pela sua conversão, mesmo quando todos achavam que seria impossível, pedindo que Deus lhe desse um sinal de que a conversão havia acontecido. Eis que minutos antes da execução seu "filho" beijou devotamente um crucifixo que lhe havia sido oferecido, fato que foi amplamente divulgado pela imprensa da época.



"Tuu totus ego sum, et omnia mea tua sunt"

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Belezas da Igreja

Domo da Basílica de São Pedro


"Tuu totus ego sum, et omnia mea tua sunt"

Padres da Igreja: Orígenes (2)

Dando seguimento à catequese apresentada na semana passada:


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Orígenes: o pensamento (2)

Queridos irmãos e irmãs!

A catequese de quarta-feira passada foi dedicada à grande figura de Orígenes, doutor de Alexandria dos séculos II-III. Naquela catequese tomamos em consideração a vida e a produção literária do grande mestre de Alexandria, indicando na "tríplice leitura" da Bíblia, por ele conotada, o núcleo animador de toda a sua obra. Deixei de parte para os retomar hoje dois aspectos da doutrina origeniana, que considero entre os mais importantes e actuais: pretendo falar dos seus ensinamentos sobre a oração e sobre a Igreja.

Na verdade Orígenes autor de um importante e sempre actual tratado Sobre a oração entrelaça constantemente a sua produção exegética e teológica com experiências e sugestões relativas à adoração. Não obstante toda a riqueza teológica de pensamento, nunca é um desenvolvimento meramente acadêmico; está sempre fundado na experiência da oração, do contacto com Deus. De facto, na sua opinião, a compreensão das Escrituras exige, ainda mais do que o estudo, a intimidade com Cristo e a oração. Ele está convicto de que o caminho privilegiado para conhecer Deus seja o amor, e que não se verifica a autêntica scientia Christi sem se apaixonar por Ele. Na Carta a Gregório Orígenes recomenda: "Dedica-te à lectio das divinas Escrituras; aplica-te a isto com perseverança. Compromete-te na lectio com intenção de acreditar e de agradar a Deus. Se durante a lectio te encontrares diante de uma porta fechada, bate e abrir-te-á aquele guardião, do qual Jesus disse: "O guardião abri-la-á". Aplicando-te assim à lectio divina, procura com lealdade e confiança inabalável em Deus o sentido das Escrituras divinas, que nelas se encontra com grande amplitude. Mas não deves contentar-te com bater e procurar: para compreender as coisas de Deus é-te absolutamente necessária a oratio". Precisamente para nos exortar a ela o Salvador nos disse não só: "Procurai e encontrareis", e "Batei e servos-á aberta", mas acrescentou: "Pedi e recebereis" (Ep. Gr. 4). Sobressai imediatamente o "papel primordial" desempenhado por Orígenes na história da lectio divina. O Bispo Ambrósio de Milão que aprenderá a ler as Escrituras das obras de Orígenes introduzi-la-á depois no Ocidente, para a entregar a Agostinho e à tradição monástica sucessiva.

Como já dissemos, o mais alto nível do conhecimento de Deus, segundo Orígenes, brota do amor. É assim também entre os homens: um só conhece realmente em profundidade o outro se tem amor, se se abrem os corações. Para demonstrar isto, ele baseia-se num significado dado por vezes ao verbo conhecer em hebraico, isto é, quando é utilizado para expressar o acto do amor humano: "Adão conheceu Eva, sua mulher. Ela concebeu..." (Gn 4, 1). Assim é sugerido que a união no amor origina o conhecimento mais autêntico. Assim como o homem e a mulher são "dois numa só carne", assim Deus e o crente se tornam "dois num mesmo espírito". Desta forma a oração do Alexandrino alcança os níveis mais elevados da mística, como é confirmado pelas suas Homilias sobre o Cântico dos Cânticos. Vem a propósito um trecho da primeira Homilia, onde Orígenes confessa. "Com frequência, disto Deus é minha testemunha senti que o Esposo se aproximava de mim no máximo grau; depois afastava-se improvisamente, e eu não pude encontrar o que procurava. De novo sinto o desejo da sua vinda, e por vezes ele volta, e quando me apareceu, quando o tenho entre as mãos, de novo me evita, e quando desaparece ponho-me de novo a procurá-lo..." (Hom. Cant. 1, 7).

Volta à mente o que o meu venerado Predecessor escreveu, como autêntica testemunha, na Novo millennio ineunte, onde mostrava aos fiéis "como a oração pode progredir, como verdadeiro e próprio diálogo de amor, até tornar a pessoa humana totalmente possuída pelo Amado divino, vibrante ao toque do Espírito, filialmente abandonada ao coração do Pai... Trata-se prosseguia João Paulo II de um caminho totalmente apoiado pela graça, que contudo exige um forte compromisso espiritual e conhece também dolorosas purificações, mas que leva, de diversas formas possíveis, à indizível alegria vivida pelos místicos como "união esponsal"" (n. 33).

Por fim, tratemos um ensinamento de Orígenes sobre a Igreja, e precisamente no interior dela sobre o sacerdócio comum dos fiéis. De facto, como o Alexandrino afirma na sua Homilia sobre o Levítico, "este discurso refere-se a todos nós" (Hom. Lev. 9, 1). Na mesma Homilia Orígenes referindo-se à proibição feita a Aarão, depois da morte dos seus dois filhos, de entrar na Sancta sanctorum "em qualquer tempo" (Lv 16, 2) assim admoesta os fiéis: "Por isto se demonstra que se alguém entrar em qualquer momento no santuário, sem a devida preparação, não revestido das vestes pontifícias, sem ter preparado as ofertas prescritas e tendo-se tornado Deus propício, morrerá... Este discurso refere-se a todos nós. De facto, ordena que saibamos como aceder ao altar de Deus. Ou não sabes que também a ti, isto é, a toda a Igreja de Deus e ao povo dos crentes, foi conferido o sacerdócio? Ouve como Pedro fala dos fiéis: "Raça eleita", diz, "real, sacerdotal, nação santa, povo adquirido por Deus". Portanto, tu tens o sacerdócio porque és "raça eleita", e por isso deves oferecer a Deus o sacrifício... Mas para que tu o possas oferecer dignamente, tens necessidade de vestes puras e distintas das dos outros homens comuns, e é-te necessário o fogo divino" (ibid.).

Assim por um lado, com o "lado cingido" e as "vestes sacerdotais", isto é, a pureza e a honestidade da vida, por outro a "lanterna sempre acesa", isto é, a fé e a ciência das Escrituras, configuram-se como as condições indispensáveis para a prática do sacerdócio universal, que exige pureza e honestidade de vida, fé e ciência das Escrituras. Com razão estas condições são indispensáveis, evidentemente, para a prática do sacerdócio ministerial. Estas condições de íntegro comportamento de vida, mas sobretudo de acolhimento e de estudo da Palavra estabelecem uma verdadeira "hierarquia da santidade" no sacerdócio comum dos cristãos. No vértice deste caminho de perfeição Orígenes coloca o martírio. Sempre na nona Homilia sobre o Levítico alude ao "fogo para o holocausto", isto é, à fé e à ciência das Escrituras, que nunca se deve apagar no altar de quem exerce o sacerdócio. Depois acrescenta: "Mas cada um de nós tem em si" não só o fogo; tem "também o holocausto, e do seu holocausto acende o altar, para que arda sempre. Eu, se renuncio a tudo quanto possuo e tomo a minha cruz e sigo Cristo, ofereço o meu holocausto no altar de Deus; e se entregar o meu corpo para que arda, tendo a caridade, e obtiver a glória do martírio, ofereço o meu holocausto no altar de Deus" (Hom. Lev. 9, 9).

Este inexaurível caminho de perfeição "refere-se a todos nós", sob a condição de que "o olhar do nosso coração" esteja voltado para a contemplação da Sabedoria e da Verdade, que é Jesus Cristo. Pregando sobre o discurso de Jesus de Nazaré quando "os olhos de toda a sinagoga estavam fixos nele" (cf. Lc 4, 16-30) parecia que Orígenes se dirigia precisamente a nós: "Também hoje, se o quiserdes, nesta assembleia os vossos olhos podem fixar o Salvador. De facto, quando dirigires o olhar mais profundo do coração para a contemplação da Sabedoria, da Verdade e do Filho único de Deus, então os teus olhos verão a Deus. Feliz assembleia, a que a Escritura afirma que os olhos de todos estavam fixos nele! Como desejaria que esta assembleia recebesse um testemunho semelhante, que os olhos de todos, dos não baptizados e dos fiéis, das mulheres, dos homens e das crianças, não os olhos do corpo, mas da alma, olhassem para Jesus!... Impressa sobre nós está a luz do teu rosto, Ó Senhor, ao qual pertencem a glória e o poder nos séculos dos séculos. Amém!" (Hom. Lc 32, 6).

Quarta-feira, 2 de Maio 2007

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"Tuu totus ego sum, et omnia mea tua sunt"

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Belezas da Igreja

Igreja Nossa Senhora do Rosário de Pompéia - Itália



"Tuu totus ego sum, et omnia mea tua sunt"

Santa Teresinha no espaço


A mocinha que queria percorrer a Terra para pregar o Nome de Jesus, mas que cedo acabou empreendendo uma viagem muito mais importante, entregando sua alma ao Pai, chegou ao espaço.

Eis a notícia publicada na Zenit:

Relíquias de Santa Teresinha em vôo espacial

MADRI, quinta-feira, 20 de novembro de 2008 (ZENIT.org).- As Carmelitas Descalças de New Caney (USA) entregaram ao astronauta Ron Garan, uma relíquia de Santa Teresinha, para que lhe acompanhasse em sua viagem espacial, informam as Obras Missionárias Pontifícias da Espanha.

Na primavera passada este comandante se dirigiu à comunidade para pedir orações para sua viagem no espaço, oferecendo-se a levar algum objeto sagrado que as monjas lhe dessem.

Durante 14 dias esta lembrança teresiana percorreu mais de 9 mil quilômetros no espaço ao redor da Terra a uma velocidade de 27.291 km/h. Durante esse tempo com uma oração intensa, a comunidade pediu a Santa Teresinha uma chuva de rosas do espaço sobre o mundo. Sua vocação universal chegou até os confins do espaço.

Em 17 de agosto passado as Carmelitas de New Caney (USA) receberam a prometida e esperada visita do amigo astronauta da comunidade.

Ron foi parte da tripulação da última viagem da nave espacial Discovery, que aconteceu do dia 31 de maio a 14 de junho para transportar e acrescentar o módulo de laboratório japonês Kibo (Esperança) à Estação Espacial Internacional.

A missão de Ron consistiu em sair ao espaço, atado só por um cabo, em um braço robótico guiado do interior da estação por outro membro da tripulação, para mover o módulo japonês na posição correta e segura, assim como fazer alguns reparos no exterior da estação espacial. A NASA preparou um vídeo da missão, pelo qual se pôde escutar e ver algo do que acontece «dentro» da nave e da estação.

A comunidade lembrou das palavras de Santa Teresinha: «Sinto a vocação de apóstolo... Quisera percorrer a terra, pregar Teu nome, e plantar sobre o solo infiel Tua Cruz gloriosa. Mas Amado meu, uma só missão não me bastaria! Quisera anunciar ao mesmo tempo o Evangelho aos cinco cantos do mundo, e até nas ilhas mais remotas...».

Com esta evocação as Carmelitas não tiveram dúvida em entregar ao astronauta uma relíquia de Santa Teresinha.



"Tuu totus ego sum, et omnia mea tua sunt"

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Herducassaum nu barziu


Cá estava eu vendo o jornal local quando me deparei com uma matériabarradenúncia já bastante conhecida por quem se preocupa com o futuro do nosso país: as crianças passam de ano sem sequer saber escrever.

Ahhh, já sabia! No meu último curso universitário conheci algumas dessas ex-crianças e isso não deve assustar mais ninguém, só quem acredita realmente que a educação tem evoluído esses últimos anos, que número de aprovações equivale à um verdadeiro aprendizado, que papai noel existe, é que ainda fica estarrecido com isso.

Os professores, em sua maioria, não tem culpa, são pressionados para que os números sejam positivos. O tal do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), aquele da moça subindo a escadinha na propaganda, é calculado com base nas taxas de aprovação e nenhum governo quer mostrar a realidade, é preferível dizer que tudo está melhorando, mesmo que isto seja uma grande mentira, depois eles consertam com cotas nas Universidades e fica tudo lindo.

Mas o pior é que tem gente que justifica o esquema, claro, como não poderia deixar de ser, com uma lógica ainda mais perversa. Segundo a "doutora em educação" consultada, a reprovação é ruim, a criança fica se achando fracassada... Nãããão diiigaaaa, mas é justamente isto que ela é, não estudou (e veja, é claro que quando a criança não tem capacidade a situação é bem diferente), não se esforçou, não aprendeu, não passou, simples assim. Quando é que, na visão Polyana da tal doutora, a criança deve sair do mundo de faz-de-conta e entrar na realidade? Quando é que ela vai aprender que nada cai do céu? Que a vida também é feita de fracassos? Continuem tratando as crianças sem apresentá-las à realidade e vocês verão que adultos teremos.

Enquanto isto, segundo a professora entrevistada, 80% dos alunos de oitava série, não tem capacidade nem de escrita, nem matemática, para estar onde estão. Brasil, o país do futuro.


"Tuu totus ego sum, et omnia mea tua sunt"

Ataques e traições

O Deus lo Vult foi atacado. A notícia já é velha até aqui no bloguinho, mas uma coisa maior acabou sobressaindo. Comentei por lá o seguinte:

Existem ateus e ateus. Conheço muitos que são honestos, honrados e capazes de uma conversa filosófica profunda e sincera. Todos estes, entretanto, possuem respeito pela fé alheia, pois reconhecem na sua própria opção uma escolha metafísica, fora, portanto, do alcance da ciência.

Reconhecem, também, via de regra, a importância dos valores morais e a impossibilidade (ou ao menos a dificuldade) de serem propostos pela ciência, ou com base na “razão pura”, como queria Kant. Normalmente eles se adaptam ao costume local (que no caso do Brasil e de toda a América Latina, tem base católica) e procuram segui-lo.

Outros, porém, embarcam nessa canoa furada por modismo, naquela “comum” rebeldia juvenil, ou talvez, como de certa forma “previu” Nietzche, por desejarem (ainda que não tenham consciência disto), justamente, se “libertar das amarras” da moral, que, na sua visão distorcida, os diminuem.

De qualquer forma aqueles ateus quase sempre não gostam destes, pois estes últimos são a prova de que é impossível para a modernidade propor algum regramento moral que seja universalmente exigível e aplicável, mostram claramente a decadência da humanidade que segue cegamente essa miragem racionalista.

Infelizmente, este tipo de atitude “fundamentalista” não é exceção desta nova “religião” sem Deus, pois, como disse, ela não possue qualquer limite moral.

Através destes exemplos podemos ver o futuro negro que aguarda a civilização e isto deve nos dar ainda mais forças para lutar.

Parabéns Jorge, por ter dado oportunidade de que um episódio tão eloqüente ocorresse, deixando tão ricamente ilustrado a decadência moral e civilizacional que combatemos.

Mas não é só isso. Esse ataque é, além de tudo, uma traição. Vamos deixar umas coisas bem claras: as ciências não se desenvolveram sozinhas, não surgiram do nada; as universidades não brotaram da terra; nem a razão foi um privilégio das pessoas nascidas depois de Descartes, tudo isto já existia e sempre foram incentivadas e desenvolvidas pela Igreja. Se a civilização ocidental chegou no ponto em que está foi porque passou, necessariamente, pela influência da Igreja, não foi a toa que os eventos decisivos aconteceram nos territórios em que a ela estava.

Agora que os filhotes destas novas possibilidades crêem não precisar mais da Igreja e querem explorar suas capacidades sem limites, inclusive o da moral, acusam a Igreja de ser contra a razão, obscurantista, etc., esquecendo que não fosse ela talvez não pudessem sequer levantar as questões que levantam hoje. É o filho que, não satisfeito de fugir de casa para satisfazer suas próprias ambições megalómanas, quer também matar a própria mãe que sempre o amou verdadeiramente.

Filhos rebeldes sempre existiram e nós sabemos o que Deus tem reservado para aqueles que decidem voltar quando quebram a cara, esperemos somente que não obriguem inocentes a comerem a lavagem que encontrarão no final da sua rebeldia.



"Tuu totus ego sum, et omnia mea tua sunt"

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Moderação contra "zueiras"

Evitei ao máximo tomar esta medida, até porque meu interesse é deixar o bloguinho aberto para os visitantes. Entretanto, diante do que aconteceu com o Jorge, do Deus lo Vult, eu acho que é melhor prevenir do que remediar e habilitei a moderação de comentários.

Evidentemente a política continuará a mesma, qualquer comentário, que não seja flood ou ataque puro e simples, será liberado e a moderação de conteúdo e linguagem continuará acontecendo já com ele liberado.

Tentarei liberar os comentários com a maior rapidez, mas peço que tenham um pouco de paciência.



"Tuu totus ego sum, et omnia mea tua sunt"

Belezas da Igreja


Altar-mor da Igreja matriz de Nossa Senhora do Pilar, em Ouro preto.


"Tuu totus ego sum, et omnia mea tua sunt"

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Padres da Igreja: Orígenes


Dando continuidade às catequeses sobre os Padres da Igreja, veremos hoje Orígenes, que, assim como no texto original, será dividido em duas partes.

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Orígenes: a vida e a obra (1)

Queridos irmãos e irmãs!

Nas nossas meditações sobre as grandes personalidades da Igreja antiga, hoje conhecemos uma das mais relevantes. Orígenes de Alexandria é realmente uma das personalidades determinantes para todo o desenvolvimento do pensamento cristão. Ele recebe a herança de Clemente de Alexandria, sobre o qual meditámos na passada quarta-feira, e impele para o futuro de modo totalmente inovativo, imprimindo uma mudança irreversível ao desenvolvimento do pensamento cristão. Foi um "mestre" verdadeiro, e assim o recordavam com saudades e emoção os seus alunos: não só um brilhante teólogo, mas uma testemunha exemplar da doutrina que transmitia. "Ele ensinou", escreve Eusébio de Cesareia, seu biógrafo entusiasta, "que o comportamento deve corresponder exactamente às palavras e foi sobretudo por isso que, ajudado pela graça de Deus, induziu muitos a imitá-lo" (Hist. Eccl. 6, 3, 7).

Toda a sua vida foi percorrida por um profundo anseio pelo martírio. Tinha dezessete anos quando, no décimo ano do imperador Setímio Severo, se desencadeou em Alexandria a perseguição contra os cristãos. Clemente, seu mestre, abandonou a cidade, e o pai de Orígenes, Leónidas, foi encarcerado. O seu filho bramava ardentemente pelo martírio, mas não pôde realizar este desejo.

Então escreveu ao pai, exortando-o a não desistir do testemunho supremo da fé. E quando Leónidas foi decapitado, o pequeno Orígenes sentiu que devia acolher o exemplo da sua vida. Quarenta anos mais tarde, quando pregava em Cesareia, fez esta confissão: "Não me é útil ter tido um pai mártir, se não tenho um bom comportamento e não honro a nobreza da minha estirpe, isto é, o martírio de meu pai e o testemunho que o tornou ilustre em Cristo" (Hom. Ex. 4, 8). Numa homilia sucessiva quando, graças à extrema tolerância do imperador Filipe o Árabe, já parecia não haver a eventualidade de um testemunho cruento Orígenes exclama: "Se Deus me concedesse ser lavado no meu sangue, de modo a receber o segundo baptismo tendo aceite a morte por Cristo, afastar-me-ia deste mundo seguro... Mas são bem aventurados os que merecem estas coisas" (Hom. Iud. 7, 12). Estas expressões revelam toda a nostalgia de Orígenes pelo baptismo de sangue. E finalmente este anseio irresistível foi, pelo menos em parte, satisfeito. Em 250, durante a perseguição de Décio, Orígenes foi preso e torturado cruelmente. Debilitado pelos sofrimentos suportados, faleceu alguns anos mais tarde. Ainda não tinha setenta anos.

Mencionámos aquela "mudança irreversível" que Orígenes imprimiu à história da teologia e do pensamento cristão. Mas em que consiste esta "mudança", esta novidade tão cheia de consequências? Ela corresponde substancialmente à fundação da teologia na explicação das Escrituras. Fazer teologia era para ele essencialmente explicar, compreender a Escritura; ou poderíamos dizer também que a sua teologia é a perfeita simbiose entre teologia e exegese. Na verdade, a sigla própria da doutrina ogigeniana parece residir precisamente no convite incessante a passar das palavras ao espírito das Escrituas, para progredir no conhecimento de Deus. E este chamado "alegorismo", escreveu von Balthasar, coincide precisamente "com o desenvolvimento do dogma cristão realizado pelo ensinamento dos doutores da Igreja", os quais de uma forma ou de outra receberam a "lição" de Orígenes. Assim a tradição e o magistério, fundamento e garantia da busca teológica, chegam a configurar-se como "Escritura em acto" (cf. Origene: il mondo, Cristo e la Chiesa, tr. it, Milão 1972, p. 43). Por isso, podemos afirmar que o núcleo central da imensa obra literária de Orígenes consiste na sua "tríplice leitura" da Bíblia. Mas antes de ilustrar esta "leitura" convém lançar um olhar de conjunto à produção literária do Alexandrino. São Jerónimo na sua Epístola 33 elenca os títulos de 320 livros e de 310 homilias de Orígenes. Infelizmente a maior parte desta obra perdeu-se, mas também o pouco que permaneceu faz dele o autor mais fecundo dos primeiros três séculos cristãos. O seu raio de interesses alarga-se da exegese ao dogma, à filosofia, à apologética, à ascética e à mística. É uma visão fundamental e global da vida cristã.

O centro inspirador desta obra é, como mencionámos, a "tríplice leitura" das Escrituras desenvolvida por Orígenes ao longo da sua vida. Com esta expressão pretendemos aludir às três modalidades mais importantes entre si não sucessivas, aliás com mais frequência sobrepostas com as quais Orígenes se dedicou ao estudo das Escrituras. Em primeiro lugar ele leu a Bíblia com a intenção de verificar do melhor modo o seu texto e de oferecer a edição mais fidedigna. Este, por exemplo, é o primeiro passo: conhecer realmente o que está escrito e conhecer o que esta escritura pretendia intencional e inicialmente dizer. Fez um grande estudo com esta finalidade e redigiu uma edição da Bíblia com seis colunas paralelas, da esquerda para a direita, com o texto hebraico em caracteres hebraicos teve também contactos com os rabinos para compreender bem o texto original hebraico da Bíblia depois o texto hebraico transliterado em caracteres gregos e depois quatro traduções diversas em língua grega, que lhe permitiam comparar as diversas possibilidades de tradução. Isto originou o título de "Hexapla" ("seis colunas") atribuído a esta imane sinopse. Este é o primeiro ponto: conhecer exactamente o que está escrito, o texto como tal.

Em segundo lugar Orígenes leu sistematicamente a Bíblia com os seus célebres Comentários. Eles reproduzem fielmente as explicações que o mestre oferecia durante a escola, tanto em Alexandria como em Cesareia. Orígenes procede quase versículo por versículo, em forma minuciosa, ampla e aprofundada, com notas de carácter filológico e doutrinal. Ele trabalha com grande rigor para conhecer bem o que queriam dizer os autores sagrados.

Por fim, também antes da sua ordenação presbiteral, Orígenes dedicou-se muitíssimo à pregação da Bíblia, adaptando-se a um público muito variado. Contudo, sente-se também nas suas Homelias o mestre, totalmente dedicado à interpretação sistemática da perícope em exame, pouco a pouco fraccionada nos versículos seguintes. Também nas Homilias Orígenes aproveita todas as ocasiões para recordar as diversas dimensões do sentido da Sagrada Escritura, que ajudam ou expressam um caminho no crescimento da fé: há o sentido "literal", mas ele esconde profundidades que não se vêem num primeiro momento; a segunda dimensão é o sentido "moral": o que devemos fazer vivendo a palavra; e por fim, o sentido "espiritual", isto é, a unidade da Escritura, que em todo o seu desenvolvimento fala de Cristo. É o Espírito Santo que nos faz compreender o conteúdo cristológico e assim a unidade da Escritura na sua diversidade. Seria interessante mostrar isto.

Tentei um pouco, no meu livro "Jesus de Nazaré", mostrar na situação de hoje estas numerosas dimensões da Palavra, da Sagrada Escritura, que primeiro deve ser respeitada precisamente no sentido histórico. Mas este sentido transcende-nos para Cristo, na luz do Espírito Santo, e mostra-nos o caminho, como viver. Isto é mencionado, por exemplo, na nona Homilia sobre os números, onde Orígenes compara a Escritura com as nozes: "Assim é a doutrina da Lei e dos Profetas na escola de Cristo", afirma o homileta; "amarga é a casca, que é como a letra; em segundo lugar, chegarás à semente, que é a doutrina moral; em terceiro encontrarás o sentido dos mistérios, do qual se alimentam as almas dos santos na vida presente e na futura" (Hom. Num. 9, 7).

Sobretudo por este caminho Orígenes consegue promover eficazmente a "leitura cristã" do Antigo Testamento, contestando de maneira brilhante o desafio daqueles hereges sobretudo gnósticos e marcionitas que opunham entre si os dois Testamentos até rejeitar o Antigo. A este propósito, na mesma Homilia sobre os Números o Alexandrino afirma: "Eu não chamo à Lei "Antigo Testamento", se a compreendo no Espírito. A Lei torna-se um "Antigo Testamento" só para aqueles que a desejam compreender carnalmente", isto é, detendo-se no sentido literal. Mas "para nós, que a compreendemos e aplicamos no Espírito e no sentido do Evangelho, a Lei é sempre nova, e os dois Testamentos são para nós um novo Testamento, não por causa da data temporal, mas pela novidade do sentido... Ao contrário, para o pecador e para quantos não respeitam o pacto da caridade, também os Evangelhos envelhecem" (Hom. Num. 9, 4).

Convido-vos e assim concluo a acolher no vosso coração o ensinamento deste grande mestre na fé. Ele recorda-nos com íntimo arrebatamento que, na leitura orante da Escritura e no compromisso coerente da vida, a Igreja renova-se e rejuvenesce sempre. A Palavra de Deus, que nunca envelhece, e nunca termina, é o meio privilegiado para esta finalidade. De facto, é a Palavra de Deus que, por obra do Espírito Santo, nos guia sempre de novo à verdade total (cf. Bento XVI, Aos participantes no Congresso Internacional no XL aniversário da Constituição dogmática "Dei Verbum", 16/9/2005). E rezemos ao Senhor para que nos dê hoje pensadores, teólogos, exegetas que encontrem esta multidimensão, esta actualidade permanente da Sagrada Escritura, a sua novidade para hoje. Rezemos para que o Senhor nos ajude a ler de modo orante a Sagrada Escritura, a alimentar-nos realmente do verdadeiro pão da vida, da sua Palavra.

Quarta-feira, 25 de Abril 2007

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"Tuu totus ego sum, et omnia mea tua sunt"

E se fosse no Brasil?


Ok, a notícia está por todo lado na internet, mas eu não poderia deixar de fazer uma menção honrosa ao sr. Presidente do Uruguai.

Para quem ainda não sabe, o Congresso daquele país aprovou uma lei que permitia às uruguaias matar seu bebê até a 12a. semana de gestação. Entretanto, o presidente Tabaré Vázquez vetou a lei, alegando "graves razões filosóficas". Seu veto dificilmente será derrubado, garantindo que o Uruguai continue livre da liberalização deste crime.

Parabéns sr. Presidente, que seu exemplo possa ser seguido em outros países.



"Tuu totus ego sum, et omnia mea tua sunt"

sábado, 15 de novembro de 2008

Mais um em trânsito



De novo voltando de Santa Teresa, mas desta vez com direito a foto... é tava um pouco frio. :-).




"Tuu totus ego sum, et omnia mea tua sunt"

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Ajudando um irmão.

Este é um post interessante, o assunto nem é importante, mas ressalta uma das características que mais me deliciam na Igreja, o fato de que somos ligados por algo muito maior do que simples afinidade, amizade ou comunidade, somos todos parte de um mesmo Corpo, somos uma grande família.

O negócio é o seguinte: o garoto do American Papist, ótimo blog americano papista e que está desde o início nos meus links, está precisando de uma ajudinha. Ele está concorrendo à uma bolsa de estudos de U$10.000,00 e necessita de alguns votos. É fácil e rápido, clique aqui e vote em Thomas Peters.

Thomas Peters, não vai errar e atrapalhar o rapaz heim. :-) E ai, decorou?? Thomas Peters :-).

Ahh sim, a geléia de pitanga ficou ótima.



"Tuu totus ego sum, et omnia mea tua sunt"

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Recado para o Itamarati

Dizem por ai que o Lula vai fazer uma visita à Sua Santidade agora por estes dias em que está na Itália, tenho uma idéia para o pessoal que cuida do cerimonial:

Imperador Henrique IV pedindo perdão ao Papa Gregório VII e o levantamento de sua excomunhão

Ahh sim, antes tem que passar três dias na porta, descalço, sem comer e vestido com trapos. :-)

ainda o imperador Henrique IV


"Tuu totus ego sum, et omnia mea tua sunt"

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Democracia, inclusão e canalhice


Responda rápido: na democracia o governo e seus órgãos deveriam representar os anseios e os valores do povo (ou ao menos da maioria dele) ou tentar modificar este povo, transformando-o em seu extremo oposto?

Se entendi bem a proposta dessa coisa chamada democracia, o cara que é eleito deveria ser um representante daqueles que o elegeram, ou me engano? Então por que cargas d'água o Ministério da Esculhambação e Canalhice (tm Carlos Ramalhete), vulgo MEC, proporia uma questão no último Enade em que afirma como correta a liberação do aborto (que, lembremos, ainda é crime) para garantir a inclusão das mulheres na sociedade?

Não é possível, acho que não devo ter entendido direito. A maioria absoluta do povo brasileiro é contra o aborto, o que significa dizer que quase ninguém acha que seja um direito da mulher matar uma criança para "se incluir na sociedade", mas a parte do governo responsável pela "educação" quer que os alunos digam que e imprescindível que isto ocorra, caso contrário perderão um ponto na avaliação. Ou concordam ou estão miseravelmente errados.

Olha a questão como ficou bonita:

As melhores leis a favor das mulheres de cada país-membro da União Européia estão sendo reunidas por especialistas. O objetivo é compor uma legislação continental capaz de contemplar temas que vão da contracepção à eqüidade salarial, da prostituição à aposentadoria. Contudo, uma legislação que assegure a inclusão das cidadãs deve contemplar outros temas, além dos citados.

São dois os temas mais específicos para essa legislação:
(A) aborto e violência doméstica
(B) cotas raciais e assédio moral
(C) educação moral e trabalho
(D) estupro e imigração clandestina
(E) liberdade de expressão e divórcio

A resposta "correta" é a A.

Imagine o sujeito que chegou em casa para conferir o gabarito: "ixi, errei, o certo é a legislação deve contemplar o aborto. Puxa, como sou burro".

Não se engane, é exatamente isto que eles tinham em mente: criar uma ilusão de que o princípio que o estudante recebeu de sua família e religião é um erro e que seu oposto é que é o correto, tão correto como dois e dois são quatro. Mas isto não é representar, é modificar, mas não pode, devo ter mesmo entendido errado essa coisa de democracia, isso seria canalhice.

Bom, já que política, pelo jeito, não é o meu forte, queria ao menos entender como exatamente o aborto inclui as "cidadãs"? Será por que dá a elas a mesma liberdade dos homens? Se for assim, será os pais que não desejarem os filhos estão livres para renegá-los ou obrigar as mães a abortar? E os bebês do sexo feminino que forem abortados, terão sido incluídos em algum lugar além da lata do lixo? Deus, como sou burro.


p.s: Cuidado, este tipo de notícia pode deixar os bebês bravos, muito bravos...




"Tuu totus ego sum, et omnia mea tua sunt"

Chuva e geléia


Vitória ficou debaixo d'água ontem. Foi uma hora de temporal e o barco virou o melhor meio de locomoção. Pena que as pessoas sofrem prejuízos com isso, porque eu me diverti bastante. Como foi logo depois da missa e não dava para chegar em casa fui tomar sorvete e passear um pouco.

Hoje continua chovendo, mas civilizadamente :-), acho que nem chegou a prejudicar a rotina das pessoas, se bem que quando estava na prefeitura resolvendo uns problemas ouvi umas moças dizendo que iam embora mais cedo com medo de uma nova tempestade, fiquei imaginando se eram servidoras públicas, seria um ótimo clichê.

Já eu, que chego em casa quando quero, deixei para ir mais tarde, acho que inconscientemente esperava por outra chuva de tomar sorvete. Como não veio eu vim para casa, mas não deixei barato, fiz uma geléia de pitanga, parece que ficou bom (outro dia eu fiz de jabuticaba, foi muito elogiada hehehe, acho que vou largar o direito e virar produtor de geléia).

Será que amanhã chove?


"Tuu totus ego sum, et omnia mea tua sunt"

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Padres da Igreja: Clemente de Alexandria


Seguindo as coleção de catequeses do Santo Padre, hoje temos a figura de Clemente de Alexandria.

Só para ressaltar, ainda estamos antes de Constantino :-).


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Clemente de Alexandria


Amados irmãos e irmãs!

Depois do tempo das festas voltamos às catequeses normais, mesmo se visivelmente na Praça ainda é festa. Com as catequeses voltamos, como disse, à sequência antes iniciada. Primeiro falámos dos Doze Apóstolos, depois dos discípulos dos Apóstolos, agora das grandes personalidades da Igreja nascente, da Igreja antiga. O último foi Santo Ireneu de Lião, hoje falamos de Clemente de Alexandria, um grande teólogo que nasceu provavelmente em Atenas em meados do século II. De Atenas herdou aquele acentuado interesse pela filosofia, que teria feito dele um dos pioneiros do diálogo entre fé e razão na tradição cristã. Ainda jovem, ele chegou a Alexandria, a "cidade-símbolo" daquele fecundo cruzamento entre culturas diversas que caracterizou a idade helenística. Lá foi discípulo de Panteno, até lhe suceder na direcção da escola catequética.

Numerosas fontes confirmam que foi ordenado presbítero. Durante a perseguição de 202-203 abandonou Alexandria para se refugiar em Cesareia, na Capadócia, onde faleceu por volta de 215.

As obras mais importantes que dele nos restam são três: o Protréptico, o Pedagogo e o Estrómata. Mesmo parecendo não ser esta a intenção originária do autor, é uma realidade que estes escritos constituem uma verdadeira trilogia, destinada a acompanhar eficazmente a maturação espiritual do cristão. O Protréptico, como diz a própria palavra, é uma "exortação" dirigida a quem inicia e procura o caminho da fé. Ainda melhor, o Protréptico coincide com uma Pessoa: o Filho de Deus, Jesus Cristo, que se faz "exortador" dos homens, para que empreendam com decisão o caminho rumo à Verdade. O próprio Jesus Cristo se faz depois Pedagogo, isto é "educador" daqueles que, em virtude do Baptismo, já se tornaram filhos de Deus. O próprio Jesus Cristo, por fim, é também Didascalos, isto é, "Mestre" que propõe os ensinamentos mais profundos. Eles estão reunidos na terceira obra de Clemente, os Estrómatas, palavra grega que significa "tapeçaria": de facto, trata-se de uma composição não sistemática de vários assuntos, fruto directo do ensinamento habitual de Clemente.

No seu conjunto, a catequese clementina acompanha passo a passo o caminho do catecúmeno e do baptizado para que, com as suas "asas" da fé e da razão, eles alcancem um conhecimento íntimo da Verdade, que é Jesus Cristo, o Verbo de Deus. Só este conhecimento da pessoa que é a verdade, é a "verdadeira gnose", a expressão grega que corresponde a "conhecimento", "inteligência". É o edifício construído pela razão sob o impulso de um princípio sobrenatural. A própria fé constrói a verdadeira filosofia, isto é, a verdadeira conversão no caminho a ser empreendido na vida. Por conseguinte, a autêntica "gnose" é um desenvolvimento da fé, suscitado por Jesus Cristo na alma unida a Ele. Clemente distingue depois entre dois níveis da vida cristã. O primeiro: os cristãos crentes que vivem a fé de modo comum, mas sempre aberta aos horizontes da santidade. E depois, o segundo: os "gnósticos", isto é, os que já conduzem uma vida de perfeição espiritual: contudo o cristão deve partir da base comum da fé e através de um caminho de busca deve deixar-se guiar por Cristo para, desta forma, chegar ao conhecimento da Verdade e das verdades que formam o conteúdo da fé. Este conhecimento, diz-nos Clemente, torna-se a alma de uma realidade vivente: não é só uma teoria, é uma força de vida, uma união de amor transformante.

O conhecimento de Cristo não é só pensamento, mas é amor que abre os olhos, transforma o homem e gera comunhão com o Logos, com o Verbo divino que é verdade e vida.

Nesta comunhão, que é o conhecimento perfeito e amor, o cristão perfeito alcança a contemplação, a unificação com Deus.

Clemente retoma finalmente a doutrina segundo a qual o fim último do homem é tornar-se semelhante a Deus. Somos criados à imagem e semelhança de Deus, mas isto ainda é um desafio, um caminho; de facto, a finalidade da vida, o destino último é verdadeiramente tornar-se semelhantes a Deus. Isto é possível graças à conaturalidade com Ele, que o homem recebeu no momento da criação, pelo que ele já é em si já em si a imagem de Deus. Esta conaturalidade permite conhecer as realidades divinas, às quais o homem adere antes de tudo pela fé e, através da fé vivida, da prática da virtude, pode crescer até à contemplação de Deus. Assim, no caminho da perfeição, Clemente atribui à exigência moral a mesma importância que atribui à intelectual. Os dois caminham juntos porque não se pode conhecer sem viver e não se pode viver sem conhecer. A assimilação a Deus e a contemplação d'Ele não podem ser alcançadas unicamente com o conhecimento racional: para esta finalidade é necessária uma vida segundo o Logos, uma vida segundo a verdade. E por conseguinte, as boas obras devem acompanhar o conhecimento intelectual como a sombra segue o corpo.

Principalmente duas virtudes ornamentam a alma do "verdadeiro gnóstico". A primeira é a liberdade das paixões (apátheia); a outra é o amor, a verdadeira paixão, que garante a união íntima com Deus. O amor doa a paz perfeita, e coloca o "verdadeiro gnóstico" em condições de enfrentar os maiores sacrifícios, também o sacrifício supremo no seguimento de Cristo, e fá-lo subir de degrau em degrau até ao vértice das virtudes. Assim o ideal ético da filosofia antiga, isto é, a libertação das paixões, é definido e conjugado por Clemente com amor, no processo incessante de assimilação a Deus.

Deste modo o Alexandrino constrói a segunda grande ocasião de diálogo entre o anúncio cristão e a filosofia grega. Sabemos que São Paulo no Areópago em Atenas, onde Clemente nasceu, tinha feito a primeira tentativa de diálogo com a filosofia grega e em grande parte tinha falhado mas tinham-lhe dito: "Ouvir-te-emos outra vez". Agora Clemente, retoma este diálogo, e eleva-o ao mais alto nível na tradição filosófica grega. Como escreveu o meu venerado Predecessor João Paulo II na Encíclica Fides et ratio, o Alexandrino chega a interpretar a filosofia como "uma instrução propedêutica à fé cristã" (n. 38). E, de facto, Clemente chegou a ponto de afirmar que Deus dera a filosofia aos Gregos "como um seu próprio Testamento" (Strom. 6, 8, 67, 1). Para ele a tradição filosófica grega, quase ao nível da Lei para os Judeus, é âmbito de "revelação", são duas correntes que, em síntese, se dirigem para o próprio Logos. Assim Clemente continua a marcar com decisão o caminho de quem pretende "dizer a razão" da própria fé em Jesus Cristo. Ele pode servir de exemplo para os cristãos, catequistas e teólogos do nosso tempo, aos quais João Paulo II, na mesma Encíclica, recomendava que "recuperassem e evidenciassem do melhor modo a dimensão metafísica da verdade, para entrar num diálogo crítico e exigente com o pensamento filosófico contemporâneo".

Concluímos fazendo nossas algumas expressões da célebre "oração a Cristo Logos", com a qual Clemente encerra o seu Pedagogo. Ele suplica assim: "Sê propício aos teus filhos"; "Concede que vivamos na tua paz, que sejamos transferidos para a tua cidade, que atravessemos sem ser submergidos as ondas do pecado, que sejamos transportados em tranquilidade pelo Espírito Santo e pela Sabedoria inefável: nós, que de noite e de dia, até ao último dia cantamos um cântico de acção de graças ao único Pai,... ao Filho pedagogo e mestre, juntamente com o Espírito Santo. Amém!" (Ped. 3, 12, 101).

Quarta-feira, 18 de Abril 2007

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"Tuu totus ego sum, et omnia mea tua sunt"

sábado, 8 de novembro de 2008

Do que é essencial


Hoje é domingo, dia de Missa. Por falar nisso, que tal fazer um esforço para se concentrar só no sacrifício que é entregue no altar?

Parece brincadeira, mas por todo lado tenho percebido que as pessoas prestam atenção em tudo, menos no que é essencial, menos no mistério que, teoricamente, é o motivo pelo qual livremente escolheram estar na Igreja.

Tudo bem, talvez a culpa seja simplesmente da falta de catequese, se o sujeito não sabe o que está acontecendo na sua frente ele não tem como lhe dar o devido valor, mas creio que se tudo o que é acidental na missa(música, alguns gestos, arte, decoração, etc.) fosse dirigido somente, e de forma clara, para ressaltar a dignidade e a magnitude daquilo que se está celebrando, provavelmente as pessoas entenderiam, sem precisar de muita explicação.

Esta semana, infelizmente, ocorreu um episódio que ilustra muito bem o alcance que a valorização de coisas acidentais pode ter na cabeça do fiel. O resumo da opera é o seguinte: O bispo de Niterói, D. Alano, por motivos que só cabem a ele julgar, afastou um padre de sua paróquia. Por conta disto a comunidade pediu que ele reconsiderasse a decisão, até ai tudo bem. O problema foi que, ao não serem atendidos, a maioria dos paroquianos decidiu não comparecer à missa e a ficar do lado de fora, de costas para o altar.

O que, pelo amor de Deus, poderia justificar dar as costas para o Rei do Universo? O que poderia justificar tanto desprezo com o calvário? Não há padre que valha isto. É uma total inversão de valores. Parece que ficar sem o "carisma" do antigo padre significa a perda do valor da missa para aqueles que deixaram de comparecer.

Menos grave, mas ainda assim gravíssimo, é a desobediência e a irreverência para com o Bispo, para o qual, aliás, ofereço minhas pobres orações e peço que façam o mesmo.

Infelizmente este não é um caso isolado, aqui em Vitória mesmo tivemos um parecido, mas, graças a Deus, sem que ninguém ficasse de costas para o altar. Fico imaginando quando outro absurdo do gênero acontecerá.



"Tuu totus ego sum, et omnia mea tua sunt"

Mudanças

Há muito tempo que eu estava querendo mudar a cara do blog. Depois de um ano com a mesma cara de "em construção" finalmente eu tomei coragem e mudei.

Ainda é provisório, e talvez nunca deixe de ser, mas gostaria de poder contar com a participação dos meus visitantes nesta mudança. Por isto eu fiz uma enquete, se não agradar eu volto para o antigo ou procuro um outro, o importante é que o novo visual não desagrade quem sempre dá uma passadinha por aqui.

E então, o que acharam? Eu, confesso, ainda estou me adaptando. :-)



"Tuu totus ego sum, et omnia mea tua sunt"

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Obamas


Minha insônia sempre traz coisas interessantes. Hoje estou acompanhando, via TV (Fox News) e internet (Fox e CNN), a apuração das eleições nos EEUU.

Se o sistema lá parece ser confuso pelo menos tem uma apuração muito mais emocionante do que a do Brasil. Aqui a rapidez das votações eletrônicas e o sistema de voto direto acabaram com a única coisa divertida, ficar acompanhando as parciais noite a dentro. Lá também é rápido, mas o voto indireto deixa a coisa muito mais legal.

P.ex. virar o jogo em um Estado como a Flórida, mesmo que com uma dúzia de votos, significa uma virada de quase 5% do total de votos que importam, o dos delegados, na California é ainda mais emocionante, 10% (com o agravante de ser uma das últimas a começar, podendo mudar o jogo todo, mesmo que o número total de eleitores seja menor do que a diferença entre um candidato e outro).

Além disto as análises sempre trazem a história das votações em cada Estado, mostrando quem está "ganhando" um Estado do concorrente, o que aumenta o clima de torcida.

Bom, mas isso é só o acidental. Eu, claro, estou torcendo pelo McCain, mas acho o fenômeno Obama muito interessante (no sentido de engraçado mesmo). Pessoalmente acho o candidato (a pessoa é outra coisa, talvez pior) um pastel de vento, daqueles do centro da cidade, tem uma casca apetitosa, mas nenhum recheio. Esse blablabla de mudança, esperança, etc, é a prova de que a propaganda é a verdadeira razão da democracia, ninguém quer escutar propostas concretas, argumentos sólidos, querem, em qualquer lugar do mundo, ver alguém que os convença de que vai manter as coisas boas e mudar as ruins, "so help him God!".


Provavelmente o sujeito vai vencer (a bem da verdade as emissoras já proclamaram sua eleição com base em suas projeções), o que é péssimo para a vida naquele país, sobretudo dos que ainda vivem dentro das barrigas das mães, ou esperando chegar lá, mas o nosso cotidiano não deve mudar muito com isto, já temos o nosso Obama aqui, na verdade, acho que o nosso é mais original do que o americano.

Para terminar eu só queria comentar a cobertura do Jornal Nacional hoje, foi hilariante, não tem outra palavra, parecia que ninguém votaria no McCain, e, no entanto, a diferença entre os votos diretos dos dois nem está tão grande, uma diferença de dois pontos percentuais até o momento, mas vamos dar um desconto, ele devem ter passeado um pouco em Nova Iorque e Washington e acharam que, como no Brasil, o brilho obamista teria cegado o restante dos Estados.

E a vida segue.



"Tuu totus ego sum, et omnia mea tua sunt"

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Dois pesos, duas medidas


Eu já tinha levantado a lebre aqui e desde então a movimentação não parou. O STF acaba de pedir ao Excelentíssimo Sr. Presidente da República, que informe sobre eventuais punições ou anistias concedidas a agentes do Estado que tenham cometido atos de tortura durante o regime militar.

O pedido de informações tem como base uma ação proposta pela Ordem dos Advogados do Brasil, que pretende que o STF declare que a lei da Anistia só vale para os maiores criminosos, só vale para aqueles que desejavam implantar no Brasil o regime comunista e não pouparam delitos para consegui-lo.

Ao meu ver só alguém com um senso de Justiça já bastante deteriorado pode propor uma ação deste tipo, e é apavorante que tenha partido justamente de quem deveria ter o dever de lutar pela sua concretização (independente inclusive do que diga a lei positiva), os advogados.

Evidentemente não são todos os advogados que apoiam essa monstruosidade (esse post, aliás, já demonstra isto), talvez até a maioria seja contrária, mas essa traição ao ideal da profissão é bastante simbólica.

Como disse na última oportunidade, em tese não sou contra a que se puna os criminosos, sou sim contra a que se puna uns e não outros. A lei da anistia veio acalmar a situação, propor um recomeço, tentar passar uma borracha nos erros do passado, perdoando os excessos de ambos os lados. Se agora ela deve ser revista para punir os crimes, que alcance também os dois lados.

Deixar de punir os assassinos, seqüestradores, assaltantes, agitadores, terroristas para punir aqueles que tentaram, talvez com excessos (mas não vem ao caso), proteger a população, não é buscar a Justiça, mas afirmar que um dos lados estava certo (os criminosos) e outro errado (os governo militar), ou seja, os coitadinhos dos assassinos agiam por uma causa nobre, por isso não devem ser punidos por seus crimes, já os "agentes do Estado" procuravam manter a exploração capitalista, por isso devem ser processados por seus excessos.

Sinceramente acho que as coisas estão bem claras, a intenção não é fazer com que a Justiça seja aplicada, mas passar a idéia de que o Comunismo é bom, e bom o suficiente para justificar qualquer atrocidade. Afinal de contas, não podemos esquecer que se o atual governo fosse realmente contra a tortura não faria questão de manter laços tão profundos e íntimos com o governo criminoso de Cuba, que mata e matou, tortura e torturou, muito mais do que o Governo do período militar sequer pensou em fazer. O que dizer então das FARCs, à quem o Excelentíssimo mandatário, em vários documentos, prometeu ajudar?

Vamos ver até onde isto vai.



"Tuu totus ego sum, et omnia mea tua sunt"

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Indicação

Aproveitando as catequeses sobre os Padres da Igreja, indico este post publicado no Fidei Depositium. Trata-se de um pequeno trecho da Carta de Santo Inácio aos Filadélfios, publicada no livro Padres Apostólicos, da coleção Patrística, da editora Paulus, já indicado aqui antes.

O texto escolhido fala da importância da união com o Bispo e é outro testemunho de como a Igreja já era A Igreja desde os apóstolos.

bom, era isso. :-)



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Padres da Igreja: Santo Irineu de Lião


Mais uma semana, mais um Padre da Igreja, desta vez Santo Irineu de Lião. Recomendo a leitura sobretudo àquelas pessoas que dizem a Igreja inventou novas doutrinas, ou que foi fundada por Constantino.


Com a palavra, Sua Santidade:



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Santo Ireneu de Lião



Queridos irmãos e irmãs!


Nas catequeses sobre as grandes figuras da Igreja dos primeiros séculos chegamos hoje à personalidade eminente de Santo Ireneu de Lião. As notícias biográficas sobre ele provêm do seu próprio testemunho, que nos foi transmitido por Eusébio no quinto livro da História Eclesiástica.


Ireneu nasceu com toda a probabilidade em Esmirna (hoje Izmir, na Turquia) por volta do ano 135-140, onde ainda jovem frequentou a escola do Bispo Policarpo, por sua vez discípulo do apóstolo João. Não sabemos quando se transferiu da Ásia Menor para a Gália, mas a transferência certamente coincidiu com os primeiros desenvolvimentos da comunidade cristã de Lião: aqui, no ano 117, encontramos Ireneu incluído no colégio dos presbíteros. Precisamente naquele ano ele foi enviado para Roma, portador de uma carta da comunidade de Lião ao Papa Eleutério. A missão romana subtraiu Ireneu à perseguição de Marco Aurélio, que causou pelo menos quarenta e oito mártires, entre os quais o próprio Bispo de Lião, Potino que, com noventa anos, faleceu por maus-tratos no cárcere. Assim, com o seu regresso, Ireneu foi eleito Bispo da cidade. O novo Pastor dedicou-se totalmente ao ministério episcopal, que se concluiu por volta de 202-203, talvez com o martírio.


Ireneu é antes de tudo um homem de fé e Pastor. Do bom Pastor tem o sentido da medida, a riqueza da doutrina, o fervor missionário. Como escritor, busca uma dupla finalidade: defender a verdadeira doutrina contra os ataques heréticos, e expor com clareza a verdade da fé.


Correspondem exactamente a estas finalidades as duas obras que dele permanecem: os cinco livros Contra as Heresias, e a Exposição da pregação apostólica (que se pode também chamar o mais antigo "catecismo da doutrina cristã"). Em suma, Ireneu é o campeão da luta contra as heresias. A Igreja do século II estava ameaçada pela chamada gnose, uma doutrina que afirmava que a fé ensinada na Igreja seria apenas um simbolismo para os simples, que não são capazes de compreender coisas difíceis; ao contrário, os idosos, os intelectuais chamavam-se gnósticos teriam compreendido o que está por detrás destes símbolos, e assim teriam formado um cristianismo elitista, intelectualista. Obviamente este cristianismo intelectualista fragmentava-se cada vez mais em diversas correntes com pensamentos muitas vezes estranhos e extravagantes, mas para muitos era atraente. Um elemento comum destas diversas correntes era o dualismo, isto é, negava-se a fé no único Deus Pai de todos, Criador e Salvador do homem e do mundo. Para explicar o mal no mundo, eles afirmavam a existência, em paralelo com o Deus bom, de um princípio negativo. Este princípio negativo teria produzido as coisas materiais, a matéria.


Radicando-se firmemente na doutrina bíblica da criação, Ireneu contesta o dualismo e o pessimismo gnóstico que diminuíam as realidades corpóreas. Ele reivindicava decididamente a santidade originária da matéria, do corpo, da carne, não menos que a do espírito. Mas a sua obra vai muito mais além da confutação da heresia: pode-se dizer de facto que ele se apresenta como o primeiro grande teólogo da Igreja, que criou a teologia sistemática; ele mesmo fala do sistema da teologia, isto é, da coerência interna de toda a fé. No centro da sua doutrina situa-se a questão da "regra da fé" e da sua transmissão. Para Ireneu a "regra da fé" coincide na prática com o Credo dos Apóstolos, e dá-nos a chave para interpretar o Evangelho, para interpretar o Credo à luz do Evangelho. O símbolo apostólico, que é uma espécie de síntese do Evangelho, ajuda-nos a compreender o que significa, como devemos ler o próprio Evangelho.


De facto o Evangelho pregado por Ireneu é o mesmo que recebeu de Policarpo, Bispo de Esmirna, e o Evangelho de Policarpo remonta ao apóstolo João, do qual Policarpo era discípulo. E assim o verdadeiro ensinamento não é o que foi inventado pelos intelectuais além da fé simples da Igreja. O verdadeiro Evangelho é o que foi transmitido pelos Bispos que o receberam numa sucessão ininterrupta dos Apóstolos. Eles outra coisa não ensinaram senão precisamente esta fé simples, que é também a verdadeira profundidade da revelação de Deus. Assim diz-nos Ireneu não há uma doutrina secreta por detrás do Credo comum da Igreja. Não existe um cristianismo superior para intelectuais. A fé publicamente confessada pela Igreja é a fé comum de todos. Só esta fé é apostólica, vem dos Apóstolos, isto é, de Jesus e de Deus. Aderindo a esta fé transmitida publicamente pelos Apóstolos aos seus sucessores, os cristãos devem observar o que os Bispos dizem, devem considerar especialmente o ensinamento da Igreja de Roma, preeminente e antiquíssima. Esta Igreja, devido à sua antiguidade, tem a maior apostolicidade, de facto haure origem das colunas do Colégio apostólico, Pedro e Paulo. Com a Igreja de Roma devem harmonizar-se todas as Igrejas, reconhecendo nela a medida da verdadeira tradição apostólica, da única fé comum da Igreja. Com estas argumentações, aqui resumidas muito brevemente, Ireneu contesta desde os fundamentos as pretensões destes gnósticos, destes intelectuais: antes de tudo eles não possuem uma verdade que seria superior à da fé comum, porque o que dizem não é de origem apostólica, é por eles inventado; em segundo lugar, a verdade e a salvação não são privilégio nem monopólio de poucos, mas todos as podem alcançar através da pregação dos sucessores dos Apóstolos, e sobretudo do Bispo de Roma. Em particular sempre polemizando com o carácter "secreto" da tradição gnóstica, e observando os seus numerosos êxitos entre si contraditórios Ireneu preocupa-se por ilustrar o conceito genuíno de Tradição apostólica, que podemos resumir em três pontos.


a) A Tradição apostólica é "pública", não privada ou secreta. Ireneu não duvida minimamente de que o conteúdo da fé transmitida pela Igreja é o que recebeu dos Apóstolos e de Jesus, do Filho de Deus. Não existe outro ensinamento além deste. Portanto quem quiser conhecer a verdadeira doutrina é suficiente que conheça "a Tradição que vem dos Apóstolos e a fé anunciada aos homens": tradição e fé que "chegaram até nós através da sucessão dos Bispos" (Adv. Haer.3, 3, 3-4). Assim, sucessão dos Bispos, princípio pessoal; e Tradição apostólica, princípio doutrinal coincidem.


b) A Tradição apostólica é "única". De facto, enquanto o gnosticismo se subdivide em numerosas seitas, a Tradição da Igreja é única nos seus conteúdos fundamentais, a que como vimos Ireneu chama precisamente regula fidei ou veritatis: e isto porque é única, gera unidade através dos povos, através das culturas diversas, através dos povos diversos; é um conteúdo comum como a verdade, apesar da diversidade das línguas e das culturas. Há uma frase muito preciosa de Santo Ireneu no livro Contra as heresias: "A Igreja, apesar de estar espalhada por todo o mundo, conserva com solicitude [a fé dos Apóstolos], como se habitasse numa só casa; ao mesmo tempo crê nestas verdades, como se tivesse uma só alma e um só coração; em plena sintonia com estas verdades proclama, ensina e transmite, como se tivesse uma só boca. As línguas do mundo são diversas, mas o poder da tradição é único e é o mesmo: as Igrejas fundadas nas Alemanhas não receberam nem transmitiram uma fé diversa, nem as que foram fundadas nas Espanhas ou entre os Celtas ou nas regiões orientais ou no Egipto ou na Líbia ou no centro do mundo" (1, 10, 1-2). Já se vê neste momento, estamos no ano 200, a universalidade da Igreja, a sua catolicidade e a força unificadora da verdade, que une estas realidades tão diversas, da Alemanha à Espanha, à Itália, ao Egipto, à Líbia, na comum verdade que nos foi revelada por Cristo.


c) Por fim, a Tradição apostólica é como ele diz na língua grega na qual escreveu o seu livro, "pneumática", isto é, espiritual, guiada pelo Espírito Santo: em grego espírito diz-se pneuma. De facto, não se trata de uma transmissão confiada à habilidade de homens mais ou menos doutos, mas ao Espírito de Deus, que garante a fidelidade da transmissão da fé. Esta é a "vida" da Igreja, o que torna a Igreja sempre vigorosa e jovem, isto é, fecunda de numerosos carismas. Igreja e Espírito para Ireneu são inseparáveis: "Esta fé", lemos ainda no terceiro livro Contra as heresias, "recebemo-la da Igreja e conservámo-la: a fé, por obra do Espírito de Deus, como um depósito precioso guardado num vaso de valor rejuvenesce sempre e faz rejuvenescer também o vaso que a contém. Onde estiver a Igreja, ali está o Espírito de Deus; e onde estiver o Espírito de Deus, ali está a Igreja com todas as graças" (3, 24, 1).


Como se vê, Ireneu não se limita a definir o conceito de Tradição. A sua tradição, a Tradição ininterrupta, não é tradicionalismo, porque esta Tradição é sempre internamente vivificada pelo Espírito Santo, que a faz de novo viver, a faz ser interpretada e compreendida na vitalidade da Igreja. Segundo o seu ensinamento, a fé da Igreja deve ser transmitida de modo que apareça como deve ser, isto é, "pública", "única", "pneumática", "espiritual". A partir de cada uma destas características podemos realizar um frutuoso discernimento sobre a autêntica transmissão da fé no hoje da Igreja. Mais em geral, na doutrina de Ireneu a dignidade do homem, corpo e alma, está firmemente ancorada na criação divina, na imagem de Cristo e na obra permanente de santificação do Espírito. Esta doutrina é como uma "via-mestra" para esclarecer juntamente com todas as pessoas de boa vontade o objecto e os confins do diálogo sobre os valores, e para dar impulso sempre renovado à acção missionária da Igreja, à força da verdade que é a fonte de todos os valores verdadeiros do mundo.


Quarta-feira, 28 de Março 2007


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O "Contra as Heresias", de Santo Irineu foi publicado pela editora Paulus.



"Tuu totus ego sum, et omnia mea tua sunt"

sábado, 1 de novembro de 2008

Dia de todos os Santos, musiquinha só de alguns :-)

Eu sei, eu sei, tem muitas postagens em um dia só... logo hoje que é sábado e tal, mas fazer o que, tem dias que isso acontece. Pena que não dá para manter a média toda semana, só quem consegue isso é o (ou seriam ossss???) Deus lo Vult. :-)

De qualquer forma, sendo hoje dia de todos os Santos e tendo visto só agora esse vídeo que o Fr. Z achou, não tinha como deixar de colocá-lo aqui hoje, nem esconder algum material para publicar outro dia.

Pena que a musiquinha está em inglês e nem todo mundo vai entender tudo, mas é engraçadinho.






"Tuu totus ego sum, et omnia mea tua sunt"

Lista de livros recomendados


Se a experiência que iniciei ontem pode produzir alguma coisa boa talvez seja este post. Tanto que a idéia é deixá-lo sob permanente atualização, vou inclusive colocar um link lateral com o intuito de facilitar a pesquisa.

Sempre que eu tiver algum livro para recomendar vou colocar seu título aqui e, se possível, com um link para a compra (vai ter gente dizendo que virei mercenário, mas sinceramente acho que não é o caso :-)).

Vamos aos livros:

A Rebelião das Massas; Ortega y Gasset. Recomendo para quem deseja entender um pouco mais a época em que vivemos. Aliás, creio que seja até uma leitura obrigatória.

Padres Apostólicos: Escritos dos primeiros padres da Igreja, entre eles São Clemente Romano e Santo Inácio de Antioquia.

Rerum Novarum: A Encíclica de Sua Santidade Leão XIII.

Escritos de Filosofia III: Filosofia e Cultura; Henrique Cláudio de Lima Vaz. Aborda o problema da falta de uma base valorativa para o ethos contemporâneo. Trata das diversas "fontes" que foram adotadas na História da humanidade, a novidade cristã e a dificuldade de propor a Boa Nova como base do ethos do homem moderno. Vale muito a pena mas a leitura é pesada, por isto eu recomendo para quem já tenha uma base filosófica, ainda que pequena.

Contra as Heresias; Santo Irineu de Lião. Importantíssimo documento de defesa da fé católica. Escrito por volta do ano 200 contra a heresia gnóstica é também um grande testemunho da unidade e da apostolicidade da fé.

Introdução ao Cristianismo; Bento XVI. Trata-se de uma oportuna análise do Credo e das dificuldades de propor a fé no mundo moderno.

Ortodoxia; G.K.Chesterton. É uma exposição da "filosofia de Chesterton", uma imperdível viagem pela mente desde gênio, em que, de paradoxo em paradoxo, redescobrimos, nessa época conturbada, que nós católicos é que somos sãos e os racionalistas é que estão a um passo da loucura. Imperdível.

1984; George Orwell. Para quem deseja uma viagem a um futuro não tão ficcional assim.


Tem mais, mas vamos começar com estes. Como disse, sempre que possível atualizarei o post, portanto, volte sempre.



"Tuu totus ego sum, et omnia mea tua sunt"

Resumo fotográfico

As vezes uma imagem tem o poder de resumir muitas coisas.



Para quem não conhece, o senhor de branco é o Papa Bento XVI e o outro é um sujeito chamado Stephen Hawking.

"Tuu totus ego sum, et omnia mea tua sunt"

Mais testes

Pela primeira vez estou tentando fazer um post pelo celular.
Nesse exato momento estou voltando de Santa Teresa/ES. Pena que acho que não vou conseguir colocar fotos. Ahhh as limitações da tecnologia.. hehehehe

Este blog esta cada vez mais tecnológico.

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