quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Ataques e traições

O Deus lo Vult foi atacado. A notícia já é velha até aqui no bloguinho, mas uma coisa maior acabou sobressaindo. Comentei por lá o seguinte:

Existem ateus e ateus. Conheço muitos que são honestos, honrados e capazes de uma conversa filosófica profunda e sincera. Todos estes, entretanto, possuem respeito pela fé alheia, pois reconhecem na sua própria opção uma escolha metafísica, fora, portanto, do alcance da ciência.

Reconhecem, também, via de regra, a importância dos valores morais e a impossibilidade (ou ao menos a dificuldade) de serem propostos pela ciência, ou com base na “razão pura”, como queria Kant. Normalmente eles se adaptam ao costume local (que no caso do Brasil e de toda a América Latina, tem base católica) e procuram segui-lo.

Outros, porém, embarcam nessa canoa furada por modismo, naquela “comum” rebeldia juvenil, ou talvez, como de certa forma “previu” Nietzche, por desejarem (ainda que não tenham consciência disto), justamente, se “libertar das amarras” da moral, que, na sua visão distorcida, os diminuem.

De qualquer forma aqueles ateus quase sempre não gostam destes, pois estes últimos são a prova de que é impossível para a modernidade propor algum regramento moral que seja universalmente exigível e aplicável, mostram claramente a decadência da humanidade que segue cegamente essa miragem racionalista.

Infelizmente, este tipo de atitude “fundamentalista” não é exceção desta nova “religião” sem Deus, pois, como disse, ela não possue qualquer limite moral.

Através destes exemplos podemos ver o futuro negro que aguarda a civilização e isto deve nos dar ainda mais forças para lutar.

Parabéns Jorge, por ter dado oportunidade de que um episódio tão eloqüente ocorresse, deixando tão ricamente ilustrado a decadência moral e civilizacional que combatemos.

Mas não é só isso. Esse ataque é, além de tudo, uma traição. Vamos deixar umas coisas bem claras: as ciências não se desenvolveram sozinhas, não surgiram do nada; as universidades não brotaram da terra; nem a razão foi um privilégio das pessoas nascidas depois de Descartes, tudo isto já existia e sempre foram incentivadas e desenvolvidas pela Igreja. Se a civilização ocidental chegou no ponto em que está foi porque passou, necessariamente, pela influência da Igreja, não foi a toa que os eventos decisivos aconteceram nos territórios em que a ela estava.

Agora que os filhotes destas novas possibilidades crêem não precisar mais da Igreja e querem explorar suas capacidades sem limites, inclusive o da moral, acusam a Igreja de ser contra a razão, obscurantista, etc., esquecendo que não fosse ela talvez não pudessem sequer levantar as questões que levantam hoje. É o filho que, não satisfeito de fugir de casa para satisfazer suas próprias ambições megalómanas, quer também matar a própria mãe que sempre o amou verdadeiramente.

Filhos rebeldes sempre existiram e nós sabemos o que Deus tem reservado para aqueles que decidem voltar quando quebram a cara, esperemos somente que não obriguem inocentes a comerem a lavagem que encontrarão no final da sua rebeldia.



"Tuu totus ego sum, et omnia mea tua sunt"

5 comentários:

Anônimo disse...

"as ciências não se desenvolveram sozinhas, não surgiram do nada; as universidades não brotaram da terra; nem a razão foi um privilégio das pessoas nascidas depois de Descartes, tudo isto já existia e sempre foram incentivadas e desenvolvidas pela Igreja."

Galileu Galilei que o diga, você não vergonha de dizer essas asneiras não?

Christiano O. Pereira disse...

Prezado Anônimo,

A Paz de Nosso Senhor Jesus Cristo!

Sugiro que o senhor, antes de acusar os outros de falar asneiras, tome o cuidado de pesquisar um pouco.

Dizer que a Igreja não incentivou e desenvolveu as ciências e a razão é um absurdo sem tamanho, que qualquer historiador sério discordaria.

Tenho alguns posts sobre o assunto na série "Como a igreja construiu a civilização ocidental" < http://christianopereira.blogspot.com/search/label/como%20a%20Igreja%20construiu%20a%20civiliza%C3%A7%C3%A3o%20ocidental >,talvez valha a pena dar uma olhadinha.

De qualquer forma o senhor não acha absurdo pensar que elas apareceram de repente, sem qualquer ligação com o mundo em que se encontravam? Por que isto não aconteceu no oriente? Não foi por acaso.

Quanto ao Caso de Galileu sugiro, novamente, um estudo breve sobre o caso, o senhor vai ver que ele já havia recebido vários prêmios da Igreja e foi várias vezes convidado para falar em Roma, sendo aplaudido por todos. Seu erro foi dizer que as Sagradas Escrituras estavam erradas e querer impor sua teoria sem provas naquele momento.

Bem, eu estava querendo fazer até um post a respeito, e talvez o faça ainda esta semana, se desejar me visite mais vezes no futuro para conferir.

Fique com Deus!

[]'s

Hecton P.Domingos disse...

"De qualquer forma o senhor não acha absurdo pensar que elas apareceram de repente, sem qualquer ligação com o mundo em que se encontravam? Por que isto não aconteceu no oriente? Não foi por acaso."

Cristiano, mil perdões se faltei com respeito a sua pessoa, de certo fui estupido grosseiro, contudo ainda penso que, "as religiões" no geral são contra ao avanço cientifico serio.

Não vim aqui pra ofender e muito menos para "poluir" seu espaço.
Até porque tenho o meu e odiaria que isso acontecesse.

Um Forte Abraço.

Christiano O. Pereira disse...

Prezado Hecton,

A Paz de Nosso Senhor Jesus Cristo!

Não se preocupe, está tudo certo. Se eu tivesse achado que seu comentário fosse um ataque muito grave eu o teria moderado, bem como o faria se fosse apenas "poluir" meu espaço como você diz. Se você der uma olhada no post da campanha de conversões, o primeiro, em agosto, salvo engano, vai ver que moderei os comentários diversas vezes.

Entretanto, infelizmente, como é óbvio, tenho que discordar da sua opinião. Foi a Igreja que fundou as primeiras universidades, foi ela que copiou os maiores clássicos do pensamento humano, do seu seio ou sobre o seu patrocínio e proteção é que surgiram muitas das grandes mentes, etc..., como eu disse antes, sem a Igreja o Ocidente seria hoje algo completamente diferente (os bárbaros poderiam ter conquistado e devastado todo o Império Romano, a agricultura e a cultura teriam sido perdidos, os progressos espirituais não teriam acontecido, as técnicas de mineração, fundição, agricultura, escrita, maquinário, etc... que só foram possíveis com a vida monástica também não existiriam, bem como talvez não fosse possível o intercâmbio de pensamento de forma tão dinâmica)

O problema, para a Igreja, não é a razão. A razão é dom de Deus e deve ser exercitada. O problema é quando ela é absolutizada, quando ela, digamos, "pode tudo", sem limites morais e quando quer se considerar como a única portadora da Verdade.

A boa ciência não deve fazer mal ao ser humano, não deve ser mais importante do que a pessoa, há limites. Dentro destes limites a Igreja sempre buscou o conhecimento e o desenvolvimento, tanto é que, p.ex., desde 1603 possui uma Academia Pontificia das Ciências (da qual fez parte Galileu), que é a única supra-nacional e a que conta com o maior número de laureados com o prêmio nobel.

Como disse recentemente Sua Santidade, no encontro do qual participava também o físico Stephen Hawking: "Não há oposição entre o entendimento pela fé e a prova da ciência empírica", está é a posição da Igreja.

Agradeço a visita.

Fique com Deus!

[]'s

Anônimo disse...

Caro Hecton,

Estudo História das Ciências e portanto discordo de sua afirmação:

"As 'religiões' no geral são contra ao avanço científico sério".

Primeiro de tudo, o que você entende por avanço científico SÉRIO? É relevante definir essa adjetivação, para não ter algumas surpresas, tal é o exemplo do caso Galileu.

É bem conhecido que o cientista pisano foi solicitado pelo Santo Ofício para provar suas teses quanto ao movimento orbital dos planetas. Galileu teve todo o tempo necessário para formalizar essas provas (em número de cinco) e apresentá-las ao Santo Ofício, que o ouviu com bastante paciência e também com muito rigor.

Dito isto, é interessante notar que o cientista que tão bem se dera na hidráulica, na queda livre dos corpos, nas observações com a luneta ... Foi um completo desastre na mecânica celeste!

Não apenas o modelo galileano era absurdo e irreal como suas "provas" seriam - em outro contexto - ridicularizadas, posto que de fato elas eram ridículas, como uma teoria das marés sem o fator chave da gravidade.

Por que apresentei esses fato? Justamente para mostrar como é grande o equívoco de quem sustenta essa tese de uma Igreja atrapalhando o avanço científico, citando o processo contra Galileu, em que este estava TOTALMENTE ERRADO. Pode-se até afirmar que - embora a intenção da Igreja no episódio fosse apenas religiosa - foi graças a Ela, à Igreja, que a ciência pôde avançar no campo da mecânica celeste, porquanto o foco da atenção voltou-se para as três leis formuladas pelo verdadeiro pai da moderna astronomia - Kepler.

Não fosse a Igreja, muitos anos, décadas, quiçá, se consumiriam aplicando um sistema copernicano puro, verdadeiro trambolho com seus epi-epiciclos; ou um sistema misto, interessante, porém igualmente equivocado; ou, pior de todos, o sistema galileano, com órbitas circulares, movimentos circulares uniformes, Sol no centro geométrico, cometas sendo meros fenômenos atmosféricos, marés sendo decorrentes da translação terrestre e o resto do mundo quebrando a cabeça tentando ajustar esse modelo ao cálculo de efemérides e às laçadas planetárias.

Há muito, muito mais a dizer sobre a sua afirmação. Cada vez mais autores reconhecem que a chamada revolução científica não foi uma quebra de paradigma tão forte e abrupta como se imagina. Ao contrário, foi a consequência natural de um amplo debate iniciado na antiguidade e intensificado nos domínios acadêmicos medievais, todos eles entremeados na Igreja. Não se trata de dizer que foi a Igreja a autora, mas de retrucar o mito de Ela ter sido/ser essa opositora cruel como se divulga por aí.

Cordial abraço