quinta-feira, 12 de junho de 2008

e no meio do dia havia um Camões

Estava aqui pensando: "será muito clichê fazer um post para o dia dos namorados?". Acho que sim, por isso não farei. Aliás, eu me meteria a divagar sobre o que é amor e o post acabaria perdendo o propósito.

Na verdade cheguei a achar uma tirinha em que o Haroldo explicava para o Calvin o que é o amor, é engraçada, mas verdadeiramente não explica o que é o amor entre um homem e uma mulher e sim o que é o apaixonar-se... coisas muito diferentes. Gustavo Corção diria que esta é só a primeira fase disto que é amor.

Mas vá lá, se me calo deixo ao menos uma poesia, um soneto. Senhoras e Senhores: Camões:

***

Transforma-se o amador na cousa amada,
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho, logo, mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.

Se nela está minha alma transformada,
Que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
Pois com ele tal alma está liada.

Mas esta linda e pura semidéia,
Que, como o acidente em seu sujeito,
Assim com a alma minha se conforma,

Está no pensamento como idéia;
E o vivo e puro amor de que sou feito,
Como a matéria simples busca a forma.

***


Um pouco de filosofia deixa ainda mais bonita a metáfora dos tercetos finais. O Acidente segundo a filosofia aristotélica/tomista não tem existir sem a substância, sem o sujeito, há, portanto, uma dependência, digamos, essencial, entre aquele e este. Da mesma forma, a matéria simples, a matéria prima, não é, não existe, sem uma forma que a atualize. Assim, a matéria simples "busca" a forma para ser, para existir. Tal é a profundidade daquilo que o autor está cantando.

Mas sei lá, acho que meu comentário acaba de estragar o post :-).



"tuu totus ego sum, et omnia mea tua sunt"

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