quarta-feira, 18 de junho de 2008

Ainda Uganda, ainda que quase sem Uganda desta vez.

No post passado escrevi o seguinte:

"É por tudo isto que a opção pela simples distribuição de preservativos sempre me parece mais uma preocupação ideológica de manter, e fomentar, certas "liberdades", certos anti-valores modernos, do que propriamente uma preocupação com número de vidas poupadas."

Alguém poderia objetar: "mas não é exatamente isto que a Igreja faz tio? Fechar os olhos para a realidade em nome de certos valores morais, condenando muitas pessoas à morte?"

Vamos por partes.

Primeiro. Não há problema algum em nortear as atitudes por certos valores, este é, aliás, o ideal. O problema é quais são os valores escolhidos. Por isso, quando escrevi ontem coloquei liberdades entre aspas e disse que a preocupação era manter certos anti-valores, ou seja, valores contrários à moral.

Aqui é engraçado reparar que realmente esta é uma acusação quase sempre lançada sobre a Igreja, sem que quem a lance perceba que por trás da escolha que ele mesmo fez há uma opção fundamental, tão decisiva quanto aquela feita pela Igreja, embora não tão segura.

Mesmo quando se opta por agir contra o que se considera um "moralismo", por trás desta ação está, justamente, uma outra "moral", uma anti-moral. O mesmo ocorre, p.ex, quando se defende que o Estado é laico e que, portanto, não deve se basear na moral cristã. Uma escolha nesse campo, mesmo que negativa, mesmo que apenas se declare "não-cristã" é já uma opção positiva, é já a escolha de uma outra base valorativa, nunca será neutra como pretendem alguns.

O racionalista moderno, como é o caso de um "cientista" como Richard Dawkins, p.ex, toma suas decisões "neutras" com base em um princípio que não pode ser provado pelas ciências, o de que a realidade se resume àquilo que pode ser experimentado, testado, reproduzido em laboratório. Ora, essa afirmação é de ordem metafísica, não pode ser testada, não pode ser experimentada, nem muito menos reproduzida em laboratório. Deixa-se a moral cristã em prol de uma outra que, a seu jeito, também valora as ações humanas.

Quando digo, portanto, que o programa brasileiro parece mais uma preocupação ideológica de fomentar certos princípios "morais", o problema não está ai, mas está sim nos valores escolhidos, mesmo que, como já disse, sob a máscara de uma neutralidade, ou de uma "laicidade" Estado.

Segundo. A Igreja não fecha os olhos para a realidade, ao contrário, ela a encara em sua completude, levando em consideração não só a realidade experimentável, mas também aquela metafísica. O homem é visto, então, em sua totalidade, não só no aspecto material, mas também no espiritual, no sentimental, no psicológico.

Terceiro. Ao fazer isto a Igreja não condena ninguém à morte, ao contrário, ordena as vidas para que tenham significado pleno e se salvem.

O resultado é, como aconteceu em Uganda, vidas poupadas, fazendo com que a lógica baseada na tal moral "neutra" vire pó, como narra o blog Pé na Africa. Para facilitar cito um trecho:

"Hoje conversei com representantes de duas ONGs, esperando ouvir algumas críticas à política do ABC. Nada. Aprovam 100%. Há um consenso nacional em torno do tema. Sobra para organizações estrangeiras descerem o pau, dizendo que é irreal esperar que um jovem de 20 anos se mantenha virgem.

Mas os números estão aí, desafiando o que diz a lógica e a convicção de muitos (como eu). São um tapa na cara dos céticos."

Preocupação com vidas plenas que a moral governamental não parece ter, ou pelo menos faria uma auto-crítica diante do que está acontecendo, mais vidas sendo salvas lá do que cá.



"tuu totus ego sum, et omnia mea tua sunt"

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