segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Amar de verdade é amar a Verdade

"Amar é tudo dar e dar-se a si mesmo" (Santa Teresinha do Menino Jesus)

É preciso amar de verdade.
Porém, por mais que isto pareça tão óbvio que mereça ser o ínicio e a conclusão de quase todas as milhares de mensagens melosas que chegam todos os dias nas nossas caixas postais, invariavelmente formatadas em powerpoint e cheia de imagens igualmente babentas e musiquinhas à la Enya, a proposta é bem diferente do que se costuma imaginar. Então esta não é mais uma mensagem gosmenta de amor-MiGuuuuXo.

Para começo de conversa, é preciso que se repita com Madre Teresa: o amor, para ser verdadeiro, tem que doer. Não se trata de uma mera possibilidade, não é apenas provável que em determinado ponto da vida o amor verdadeiro doa, não. O que faz com que seja verdadeiro é sua dor efetiva.

Agora, é preciso que se esclareça, não é dor de amor não correspondido, não é dor de saudade, nem nenhuma dor romântica, isso, meu amigo, sem a real disposição para doar-se é só dor de cotovelo.

Amor tem que doer porque para ser verdadeiro ele deve partir desde sempre da disponibilidade para o sacrifício, para doar-se todo para o Bem do outro e, assim, obriga já em potência ao abandono de certas paixões.

Com efeito, buscar no outro a realização dos meus ânseios e desejos, e importar-se com ele somente enquanto cumpre esse papel de me fornecer felicidade, não é próprio do verdadeiro amor, que é antes um cuidado desinteressado do outro.

Assim, o simples ato de se abrir à possibilidade desse amor já é angustiante, porquê supõe retirar do centro de seus atos o próprio prazer.

Tenho um amigo que diz que provavelmente Deus terá mais misericórdia do nosso tempo do que dos anteriores. Tendo a concordar com ele. Como é difícil suportar somente a angústia de se colocar incondicionalmente ao serviço do Bem do próximo, e tanto mais quando desde pequeno se foi ensinado a procurar a própria felicidade.

A proposta de um tal amor, que aceita ajudar a carregar a cruz do outro (e, até certo ponto, fazê-la sua), parece tão absurda aos nossos olhos que tem quem estranhe até ser amado desta forma. Escondem ou se fecham para não "assustar" o outro, ou, antes, para não lhe causar muito desconforto. Ora, o amor está justamente em compartilhar a dor.

Então, já no simples ato de dizer sim ao amor temos nosso primeiro encontro com a dor e é esta que normalmente nos paralisa.

Passada essa "primeira fase" (que se repetirá ainda por diversas vezes) e tendo aceitado cuidar do outro custe o que custar, exigimos de nós sacrifício e desapego efetivos, necessários para que nos guiemos somente para o seu Bem e não por nossas vontades.

A boa notícia é que, como me ensinou minha irmãzinha querida: "O amor alimenta-se de sacrifícios; mais a alma recusa para satisfações naturais, mais sua ternura se torna forte e desinteressada." (parágrafo 308 de sua "História de uma Alma", manuscrito C)

Mas ai, no abandono da vontade egoista, está a razão pela qual o amor verdadeiro deve doer. Dói porque subordinado à Verdade, porquê quer destinar o outro à felicidade, tanto agora como no além. Uma felicidade que só pode vir da perfeição. Assim é que amar sem amar antes a Verdade é somente amar a si próprio.

***
"Sei que vossos cordeirinhos me acham severa. Se lessem estas linhas, diriam que não me parece custar o mínimo correr atrás deles, falar-lhes num tom severo mostrando seu belo velocino sujo ou trazendo algum tufo de lã que deixaram nos espinhos do caminho. Podem dizer tudo o que quiserem, no fundo sentem que os amo com amor verdadeiro, que nunca faria como o mercenário que, vendo o lobo chegar, abandona o rebanho e foge. Estou pronta a dar minha vida por eles, mas meu afeto é tão puro que não desejo que o conheçam. Com a graça de Jesus, nunca procurei conquistar o coração deles. Compreendi que minha missão consistia em levá-los a Deus e fazê-los compreender que aqui vós sois a minha Madre, o Jesus visível que devem amar e respeitar." (Santa Teresinha do Menino Jesus, "História de uma Alma", parágrafo 313, manuscrito C)


"tuu totus ego sum, et omnia mea tua sunt"

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