sexta-feira, 17 de abril de 2009

Mais amor

Várias vezes eu me pergunto por que escrever sobre alguma coisa se alguém já escreveu melhor sobre ela. Escrevi aqui sobre o amor verdadeiro, então lembrei do texto abaixo, que de forma muito mais bonita diz mais e melhor. Com vocês, Gustavo Corção:

(...)o amor não pode ser cego.

Ao contrário, o amor é lúcido. O amor, o verdadeiro amor é ardentemente compreensivo. Só quem ama verdadeiramente, conhece verdadeiramente. Se é verdade que o conhecimento precede o amor, é verdade também que o amor precede a dilatação do conhecimento.

O amor, o verdadeiro amor tem um conhecimento penetrante, candente, fino, lúcido; tem um conhecimento de ressonância profunda, de identificação, de conaturalidade.

O amor, o verdadeiro amor advinha, penetra, descobre, simpatiza, faz suas as aflições do outro, dá ao outro suas próprias alegrias. É compreensivo. Mas não é compreensivo no sentido que se dá a esse vocábulo, quando quer significar uma tolerância que fecha os olhos. Não. O amor verdadeiro é compreensivo num sentido maior, que não fecha os olhos, mas que também não fecha o coração. Vê as falhas do outro, vê as misérias do outro, com uma generosa inquietação, com uma piedosa solicitude. Mas vê. Vê com amor. Mas vê. E é nessa visão que ele encontra as forças de paciência para os dias difíceis, e que se defende das amargas decepções. A miséria, o defeito, a falha, apresentados pelo amor, conservam sempre a dignidade do contexto em que foram apreendidos, sem sacrifício da veracidade. Porque o amor é veraz; é verídico; é essencialmente amigo da verdade. E como compete à razão guiar a alma nos caminhos da verdade, segue-se com lógica irresistível que a razão é o piloto do amor.

Mas há um amor que é efetivamente cego; um amor que não é verídico; um amor que não é compreensivo; um amor que não é transformante, e que não ressoa, que não simpatiza, que não advinha, que é inimigo da verdade. É o amor-próprio. Cegueira voluntária, o amor-próprio se compraz nas mentiras que agradam as paixões. Princípio de divisão interna, o amor-próprio divide o homem de si mesmo.

A maioria dos dramas consiste no equívoco com que se rotula de amor a triste pantomima do amor-próprio. Esses romances de amor são comédias de erros em que cada um engana o outro, e a si mesmo se engana, com o jogo gracioso que se convencionou ser próprio da juventude e da esgrimagem dos sexos. O centro de todos os disparates é o amor-próprio, a divisão do eu, o divórcio interno entre a vontade e a inteligência, em torno do qual se forma a constelação de tendências que Karen Horney chamou de pride system.

(...)



"tuu totus ego sum, et omnia mea tua sunt"

2 comentários:

Christiane Forcinito Ashlay Silva de Oliveira disse...

Amigo

Estou escrevendo sobre isso e te digo mais...

O amor é paradoxal e é justamente por isso que se pode ser chamado AMOR!

Ainda hoje postarei o artigo no blog.

Grande abraço.

Chris.

Christiano O. Pereira disse...

É minha amiga, já estou no aguardo para ler :-)

Fique com Deus!

Grande abraço pra vc tb.

Christiano