sexta-feira, 24 de abril de 2009

Por que estás abatida e confusa, minha alma?

O que dizer? Hoje não foi um dos meus melhores dias. Tem lá os seus motivos, mas vou ser misterioso, quem sabe sabe.

Mas já acordei com a solução na cabeça, desde cedo martelando sem cessar: "Quare tristis es, anima mea, et quare conturbas me? Spera in Deo, quoniam adhuc confitebor illi: salutare vultus mei, et Deus meus." Salmo 42. (Por que estás triste, ó minha alma, e por que me inquietas? Espera em Deus, porque ainda O hei de louvar, Ele, que é meu Salvador e meu Deus).

Mais tarde outras versões para a mesma conclusão voltaram a aparecer na minha frente, com certeza para que eu não me esquecesse. Até em um inusitado estudo sobre Machado de Assis, sugerido no Borboletas ao Luar:


“Soou o cantochão. Chegou-me o incenso. A imaginação deixou-se-me embalar pela música e inebriar pelo aroma, duas fortes asas que a levaram de oeste a leste. Atrás dela foi o coração, tornado à simpleza antiga. E eu ressurgi, antes de Jesus. E Jesus apareceu-me antes de morto e ressuscitado, como nos dias em que rodeava a Galiléia, e, abrindo os lábios, disse-me que a sua palavra dá solução a tudo.

— Senhor, disse eu então, a vida é aflitiva, e aí está o Eclesiastes que diz ter visto as lágrimas dos inocentes, e que ninguém os consolava.

— Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados.

— Vede a injustiça do mundo. ‘Nem sempre o prêmio é dos que melhor correm, diz ainda o Eclesiastes, e tudo se faz por encontro e casualidade.’

— Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos.

— Mas é ainda o Eclesiastes que proclama haver justos, aos quais provêm males...

— Bem-aventurados os que são perseguidos por amor da justiça, porque deles é o reino do céu.

E assim por diante. A cada palavra de lástima respondia Jesus com uma palavra de esperança. Mas já então não era ele que me aparecia, era eu que estava na própria Galiléia, diante da montanha, ouvindo com o povo. E o sermão continuava. Bem aventurados os pacíficos. Bem-aventurados os mansos...” (A Semana, ed. de Mário de Alencar, s/d, p. 126-127).

As vezes Deus parece "esquecer" como eu sou fraco, mas certamente lembra sempre que eu sou lento e teimoso e me vence pela insistência. Obrigado Senhor!



"Tuu totus ego sum, et omnia mea tua sunt"

2 comentários:

Moisés de Oliveira disse...

Nunca tinha lido esse conto. Muito bom! Jamais havia pensado nesse paralelismo entre o Eclesiastes e o Evangelho. Cristo reafirma o realismo do Eclesiastes, mas faz uma releitura (e, bem, sendo Ele o próprio Deus não é simplesmente uma releitura...) cheia de esperança e misericórdia. Fabuloso!

E Christiano, que Deus o guarde, o ilumine e fortaleça.

Um abraço fraterno,

Moisés

Christiano O. Pereira disse...

Pois é, eu também não conhecia esse texto de Machado de Assis, e acabei conhecendo na hora certa :-).

No estudo do link o autor fala um pouco mais sobre esse paralelismo. Também achei fabuloso.

Agradeço suas orações.

[]'s


Christiano