quarta-feira, 4 de março de 2009

Ortodoxia

"Este é o impressionante romance da ortodoxia. Os homens habituaram-se, loucamente, a falar da ortodoxia como de alguma coisa pesada, estúpida e segura. Nunca houve coisa tão perigosa ou tão excitante como a ortodoxia. Era a sanidade: e ser são é mais dramático do que ser louco. Era o equilíbrio de um homem atrás de cavalos lançados em louca correria, parecendo cair aqui e levantar-se acolá, mas conservando em todas as suas atitudes a graça da escultura e a precisão da aritmética. A Igreja, nos seus remotos dias, avançou feroz e firme como um cavalo de guerra; no entanto, é absolutamente anti-histórico dizer-se que ela avançava como louca em direção a uma idéia, como acontece com o fanatismo vulgar. Ela sempre soube desviar-se para a direita ou para a esquerda, com o fim único de evitar enormes obstáculos. Por um lado, deixou a enorme massa do arianismo, escorada por todos os poderes do Mundo, para tornar o Cristianismo demasiadamente mundano. No instante seguinte, teve de se desviar novamente para fugir a um orientalismo que teria tornado o Cristianismo deveras dissociado deste mundo. A Igreja ortodoxa nunca seguiu um caminho já aplanado, nem aceitou as convenções; a Igreja ortodoxa nunca foi respeitável. Teria sido mais fácil ter aceito o poder terreno dos Arianos. Teria sido fácil, no calvinista século XVII, ter caído no poço sem fundo da predestinação. É fácil ser louco; é fácil ser herege. É sempre fácil acompanhar os tempos; o difícil é conservar a própria personalidade. É fácil ser modernista, assim como é fácil ser esnobe. Ter caído numa destas armadilhas criadas pelo erro e pelo exagero que, moda após moda e seita após seita, estabeleceram-se ao longo do histórico caminho do Cristianismo - seria coisa indubitavelmente simples. É sempre fácil cair: há uma infinidade de ângulos que nos podem provocar a queda, mas há apenas um onde podemos nos firmar. Ser arrastado por qualquer dessas teorias novas, desde o Gnosticismo até a Ciência Cristã, teria, sem dúvida, sido óbvio e fácil. Mas ter evitado todas essas coisas foi uma alucinante aventura; e, na minha visão, o carro celestial segue trovejando através das eras, as negras heresias debatem-se por terra, mas a verdade intrépida e bravia, embora vacile, conserva-se ereta." (G.K. Chesterton, Ortodoxia)



"Tuu totus ego sum, et omnia mea tua sunt"

5 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom esse excerto! Esta semana fiz o pedido desse livro e estou aguardando a entrega, ansioso.

Tem uma frase do Chesterton que gosto muito:

«Uma coisa morta pode seguir a correnteza, mas somente uma coisa viva pode contrariá-la»

É isto que nós, católicos, tentamos fazer a todo instante: ser o diferencial no mundo.

Estamos vivos, como deveríamos estar, pois tentamos contrariar a correnteza insinuante destes tempos.

P A X

Christiano O. Pereira disse...

Meu amigo,

Pax Christi!

Excelente aquisição :-), é um livro que vale por muitos. Já é a segunda ou terceira vez que eu o leio e sempre acho algo novo.

É sempre prazeiroso redescobrir, nesta época de tantas confusões, que nós católicos é que somos sãos, os racionalistas é que estão à um passo da loucura. :-)

[]'s

Morg Ana disse...

"É sempre fácil acompanhar os tempos; o difícil é conservar a própria personalidade"

Fantástico! Amei este trechinho! Tenho que reler este livro, é um dos meus preferidos.

Christiane Forcinito Ashlay Silva de Oliveira disse...

Amigo

Eu não sei o que seria de mim sem a Ortodoxia...

Christiano O. Pereira disse...

é minha amiga, não sei o que seria da humanidade sem a ortodoxia :-)