quarta-feira, 30 de abril de 2008

A fé move montanhas.... e as vezes até universidades

O resumo é o seguinte: O Papa faria uma visita à universidade de Sapienza (que apesar de leiga, foi fundada pelo papa Bonifácio VIII), em Roma, onde faria um discurso. Ocorre que um grupelho de uma meia dúzia de dois ou três resolveram protestar e fizeram tanta baderna que o Santo Padre achou melhor desmarcar. O caso repercurtiu em todo mundo e vários intelectuais criticaram os revoltadinhos, mas o melhor ainda estava para acontecer: No domingo seguinte ao invés do Papa ir à Universidade, Sapienza (e vários outros estudantes universitários) foi ao encontro dele.

Tá, a história já é velha, aconteceu em janeiro, mas é que só agora eu vi uma foto que permite perceber a dimensão do apoio recebido por Bento XVI:


Saiu melhor que a encomenda. :-)


"tuu totus ego sum, et omnia mea tua sunt"

terça-feira, 29 de abril de 2008

da coleção "deixando as coisas bem claras" - II

Aproveitando o comentário do Elton sobre o primeiro post da série, vou catar um post do blog dele que cabe direitinho aqui.

"O grande Luiz Gonzaga, o rei do baião, conta uma – estória – que acho muito engraçada.

Um dia o cangaceiro Virgulino Lampião resolveu visitar a cidade de Juazeiro do Norte para encontrar com o Padre Cícero Romão que lá residia. Quando os cangaceiros entraram na cidade foi aquele alvoroço só.

Mas, os cangaceiros rumaram logo para a Igreja com as armas guardadas. Entraram, se ajoelharam, rezaram e logo depois sentaram nos bancos a espera do padre.

Padre Cícero entrou e Lampião foi logo se levantando, mas, o padre disse:
- Fique aí mesmo Virgulino. Converso com você daqui Virgulino. Quem foi que lhe chamou aqui?
Quem foi que lhe chamou em Juazeiro, Virgulino?

O padre já estava segurando o seu famoso cajado. E foi se aproximando.

Lampião respondeu:
- Eu vim lhe pedir a benção, meu padrinho!
Padre Cícero disse:

- Eu não sou teu padrinho, Virgulino. Eu não sou padrinho de cangaceiro, Virgulino. Quem lhe chamou aqui no Juazeiro? “Tu quer” minha (levantando o cajado) benção, Virgulino? Então toma (aceitando o cajado no lombo do cangaceiro) pá, pá, pá, pá...

Lampião, encolhido disse:

- Ô, padre macho!"


"tuu totus ego sum, et omnia mea tua sunt"

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Rumores


O site Rorate Coeli faz eco a um rumor publicado na revista italiana Panorama, segundo o qual George Bush (metodista) teria se convertido ao catolicismo e estaria aguardando apenas sair da presidência para tornar público tal fato (lembrem-se que a mesma história aconteceu com Tony Blair e tudo se confirmou ao fim do seu mandato).

Esse é o tipo de rumor que se não aparecesse eu mesmo ia acabar criando :-), já estava desconfiando disto desde os posts sobre a visita do Papa aos EEUU. Naquela oportunidade minhas pesquisas me mostraram que Bush está cercado de conselheiros católicos e teve, inclusive, aulas de Doutrina Social da Igreja, que acabaram influenciando muitos pontos do seu governo. Esse tipo de coisa é normal, a pessoa se aproxima sinceramente da Verdade, fica maravilhado e acaba se entregando à Ela. Deus queira que os rumores se confirmem em breve.

Segue um trecho da reportagem, primeiro em inglês depois em italiano:

After Tony Blair, it could be the turn of George W. Bush. According to Washington rumors, the President, a Methodist Christian, would be in the process of converting to Catholicism, as the Anglican Blair. The prayer which the Pope and the Bush family prayed together in the Oval Office of the White House might be the sign of the already accomplished conversion, which the President of the United States could expect to make public at the end of his term. Also Jeb, George's younger brother, entered the Catholic faith years ago, thanks to his Mexican wife Columba.

Dopo Tony Blair potrebbe essere la volta di George W. Bush. Secondo le voci di Washington, il presidente, cristiano metodista, sarebbe in procinto di convertirsi al cattolicesimo come l’anglicano Blair. La preghiera che il Papa e la famiglia Bush hanno recitato insieme nello Studio ovale della Casa Bianca potrebbe addirittura essere il segno dell’avvenuta conversione, che il presidente degli Stati Uniti aspetterebbe a comunicare a fine mandato. Anche Jeb, fratello minore di George, da anni è passato alla fede cattolica, grazie alla moglie messicana Columba.


"Tuu totus ego sum, et omnia mea tua sunt"

Um pouco de música

Estava eu aqui à procura de alguma coisa interessante para atualizar o blog quando topo com esse vídeo indicado no Sal Terrae (que já se encontra na lista de links indicados):

Bach Collegium Japan - Herz und Mund und Tat und Leben




"Tuu totus ego sum, et omnia mea tua sunt"

sábado, 26 de abril de 2008

da coleção "deixando as coisas bem claras" - I

Retirado do blog Sal Terrae:

Pio XI e o Integralismo

Ao saber da educação que as crianças recebiam nas escolas durante o governo Mussolini, onde o Estado havia recebido o direito de “formar a juventude italiana” através do lema “livro e mosquetão, o perfeito fascista”, Pio XI disse ao embaixador da Itália, Cesare Maria de Vecchi: “Diga a Mussolini que seus métodos me desgostam”. O diplomata replica que ele ‘estaria passando da conta’. O impetuoso Pio XI então acrescenta: “Então diga-lhe que me faz vomitar, que me causa náuseas.”

***
:-)


"tuu totus ego sum, et omnia mea tua sunt"

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Missão dada é missão cumprida

Conforme prometi no post de ontem, segue abaixo o vídeo do Bush elogiando o discurso do Papa. De lambuja eu estou colocando mais um vídeo, desta vez de um discurso feito pelo mesmo Bush um dia depois.

Awesome speech





Discurso do Bush




"(...)The excitement was just palpable. The streets were lined with people that were so thrilled that the Holy Father was here. And it was such a privilege to welcome this good man to the United States.

For those of you on the South Lawn -- who saw the South Lawn ceremony live, it was -- what an unbelievable -- it was just such a special moment. (Applause.) And it was a special moment to be able to visit with the Holy Father in the Oval Office. He is a humble servant of God. He is a brilliant professor. He is a warm and generous soul.

He is courageous in the defense of fundamental truths. (Applause.) His Holiness believes that freedom is the Almighty's gift to every man, woman and child on Earth. He understands that every person has value, or to use his words, "each of us is willed, each of us is loved, [and] each of us is necessary."(...)"

O discurso completo está aqui.


"tuu totus ego sum, et omnia mea tua sunt"

Acompanhando os passos de Pedro.

Sei que havia prometido postagens para essa semana, porém, afora minha preguiça (mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa), gastei um tempo acompanhando as notícias vindas das terras do Tio Sam sobre a visita do Sumo Pontífice.

Bons frutos devem vir dessa visita e não só para as igrejas particulares dos EUA mas para toda a Igreja Católica (ia escrever u n i v e r s a l..., mas fiquei com medo das propagandas que iriam aparecer no google adsense ai do lado hehehehehe).

Penso assim porque não tomo esta viagem como um evento isolado. Quero crer, e a análise não é só minha, que Sua Santidade tem uma estratégia, um plano a longo prazo para o seu rebanho, ou ao menos o esqueleto de um.

Os recados não poderiam ser mais claros: - A Europa (que já sente as influências daninhas do ateismo político), deve aprender com os Estados Unidos que "a democracia só florece quando os líderes e aqueles a quem representam são guiados pela Verdade e usam a sabedoria nascida da moral nas decisões que afetam a vida e o futuro da nação" (Democracy can only flourish, as your founding fathers realized, when political leaders and those whom they represent are guided by truth and bring the wisdom born of firm moral principle to decisions affecting the life and future of the nation - discurso na Casa Branca, tradução beeeem livre); - A liberdade religiosa deve ser sempre respeitada; - a tradição de um povo é que lhe dá identidade e ela deve ser mantida e protegida, sob pena de se disvirtuar seu próprio ser (mais um recado evidente para a Europa, que faz de tudo para esquecer sua identidade cristã); etc...

Isso é bastante coerente com o que ele tem dito e feito até aqui e, embora pareça mais voltado para a Europa, a análise e diagnóstico se aplicam a toda a Igreja, já o tratamento requer doses maiores ou menores de acordo com o grau de doença do paciente e nesse caso as igrejas européias estão na UTI, sob o risco de uma invasão muçulmana.

Como eu disse, esta análise não é só minha. George Weigel deu sua opinião na NewsWeek (How Benedict XVI Will Make History - The master teacher who follows John Paul is a moral leader who's begun an unprecedented conversation with Islam.). É apenas uma opinião, mas a meu ver pode não estar longe da realidade. Lá ele afirma que o poder papal hoje, após Leão XIII, é claramente de ordem moral e compara a atuação do Grande João Paulo II para a queda do regime comunista europeu com a atuação de Bento XVI para uma nova conversa com o Islã, uma reforma dos rumos que aquela religião tem tomado sob influência principalmente dos Wahhabitas, que permita a convivência pacífica e pluralista (mas não relativista) entre as duas religiões (e aí a viagem para os EUA e os discursos elogiando a pluralidade religiosa daquelas terras, sem cair em um relativismo, se encaixam perfeitamente), para isto o autor relembra uma série de fatos que já marcaram o pontificado de Bento XVI, como a aula magna em Regensburg, o encontro com o Rei da Arábia Saudita, etc... Por fim ressalta as qualidades de grande professor do nosso Papa. Enfim, para quem entende um pouco de inglês vale a pena a leitura.

***

Um detalhe que passou despercebido por quase todo mundo foi o elogio que Bush fez ao discurso do Papa, assim que este terminou o presidente veio cumprimentá-lo e disse um pouco longe dos microfones: "Awesome speech" (discurso impressionante). O vídeo estava no Youtube mas tiraram, se voltar eu posto aqui.

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"Olha só Quem está aplaudindo!!!"


"Tuu totus ego sum, et omnia mea tua sunt"

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Faleceu Dom Estêvão Bettencourt



A Igreja do Brasil perdeu na madrugada de hoje (segunda-feira) um dos seus gigantes. Dom Estêvão (1919-2008) foi sempre certeza do caminho certo, porto seguro mesmo quando a mania dos teólogos do Brasil e da América Latina era inventar "caminhos novos".

Sempre muito simples, acolhedor, solícito e paciente, mesmo com os mais despreparados como eu, ele deixará saudades. Quando eu estava começando a estudar ele foi um dos meus refúgios, tanto através dos cadernos da Mater Ecclesiae quanto por e-mail (respondidos sempre rapidamente e de maneira carinhosa).

Pelo testemunho que encontramos hoje na blogosfera católica e pelos principais sites de apologética e catequese vemos que todos eles tinham uma grande ligação com esse mestre. Veritatis, Pastoralis, Canção Nova, Prof. Felipe Aquino e tantos outros reconhecem hoje sua importância e levam, de alguma forma, um pouco desse mestre em seu serviço catequético. Aproveito para, em nome da Associação A Hora de São Jerônimo, nos juntar a eles, com a certeza do aval do prof. Carlos, nosso presidente, que foi quem primeiro me apresentou D. Estêvão.

Se ontem eu podia dizer que tinha visto pessoalmente um santo (João Paulo II), hoje posso afirmar que também já troquei e-mails com outro (D. Estêvão). A Igreja militante perde um grande homem, mas a Igreja Triunfante ganha mais um santo.

Deus o tenha em sua glória, D.Estêvão, Deus o tenha! E roga sempre por nós amado irmão!

Um testemunho do prof. Felipe Aquino.

Luto de um dia no blog, amanhã ou depois eu posto o que iria postar hoje.


"tuu totus ego sum, et omnia mea tua sunt"

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Juventude Castrista


Direto do blog Generación Y, um dos poucos que, a duras penas (narradas no próprio blog), conseguem furar o bloqueio comunista da ilha que-só-é-de-Fidel-porque-se-discordar-ele-fuzila e se manter no ar, um exemplo de como as coisas "funcionam" por lá.

A Blogueira Yoani Sánchez, narra que ao ir a uma reunião na escola do seu filho descobriu que os critérios para definir quem iria para os melhores "preuniversitarios de ciencias exactas, escuelas de arte o tecnológicos de informática y comunicaciones" não seria mais a nota, mas a integralidade do aluno, seguindo nove parâmetros.

Assim, pouco importa que o pequeno tenha boas notas, importante mesmo é que possua:

1- Assistência e pontualidade;
2- Atitude ante ao trabalho;
3- Atitude ante ao estudo;
4- Disciplina;
5- Uso adeqüado do uniforme e dos atributos dos pioneiros do socialismo (que são uns emblemas e bandeirinhas cujo significado reporta sempre à revolução);
6- Manifestações e atividades político partidárias;
7- Participação em atividades culturais e esportivas;
8- Cuidado com a propriedade pública e com o meio ambiente;
9- Relações humanas.

Nada contra disciplina e coleguismo, mas não preciso dizer o que penso do ponto 6 não é!? Doutrinar massivamente a juventude é, talvez, a única forma que eles têm para se manter no poder em um futuro próximo. A situação é tão desesperadora na ilha-prisão dos Castro que só criando uma realidade fantasiosa desde a tenra infância é que se pode tentar evitar uma revolta, quem sabe vivendo essa realidade paralela eles não esqueçam a fome, a falta de saúde (sim lá falta um sistema descente de saúde, malgrado a propaganda), etc..? Meu palpite é que o estômago roncando uma hora ou outra imporá sua Realidade sobre a de faz-de-conta.

Fora isto, ainda que o aluno seja um gênio, sendo pouco sociável ele deverá ir para as piores escolas. Esta é a lógica por lá.



"Tuu totus ego sum, et omnia mea tua sunt"

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Mais do Mesmo

Seguindo o artigo anterior...


"Permito-me observar que toda justiça penal e capital que não brote da fé no Além é uma sandice bestial" (Leo Naphta, personagem do romance A Montanha Mágica, de Thomas Mann)



"tuu totus ego sum, et omnia mea tua sunt"

sexta-feira, 4 de abril de 2008

A Lei Positiva e a Possibilidade de Desobedecê-la

Há alguns dias, em uma dessas comunidades do orkut, surgiu uma discussão sobre a licitude moral da desobediência de uma lei civil na qual me permiti dar uns pitacos e que agora resumo aqui.

A lei é, segundo São Tomás de Aquino, uma ordenação da razão, promulgada para o bem comum por aquele que dirige a comunidade, ou seja: não é arbitrária; é dirigida ao Bem comum (sempre e necessariamente o próprio Deus); deve ser promulgada, ou seja, estar ao alcance da inteligência; e é sustentada por quem dirige a comunidade (Deus, no caso da lei natural, e aqueles que exercem a autoridade em seu nome no caso da lei positiva).

Para São Tomás de Aquino e logo também para mim, seu humilde discípulo, existem três espécies de leis: a lei eterna, a lei natural e a lei positiva.

A lei natural é a que o homem conhece pela razão, é uma participação da lei Eterna (que ordena todo o universo), é uma impressão que Deus põe em cada pessoa e pela qual se pode discernir entre o bem e o mal. Já a lei positiva é aquela que o homem promulga para reger uma comunidade (como o código civil, p.ex), ela deve explicar e determinar as aplicações da lei natural, porém é sempre fruto da cabeça do legislador, no sentido de que é ele quem transforma em palavras aquilo que deseja estabelecer como norma positiva, seja fruto de uma percepção da consciência, seja uma invenção puramente racional.

Do que eu disse vemos, portanto, que a lei positiva tem seus limites, ou seja: para ser moralmente legitima ela deve:

1- ser conforme a lei natural e não violá-la em hipótese alguma;
2- ser ordenada para o bem comum (que não é simplesmente a vontade de um indivíduo, de um grupo ou de uma maioria de vontades);
3- não ordenar o que é impossível de ser feito (parece incrível mas tem aplicador do direito que esquece essa regra).

Leis que cumpram esses requisitos devem, em regra, ser obedecidas.

Já leis que não são "fruto" direto da lei natural, mas que não a violem (uma lei que organize os lugares para estacionamento, ou limite de velocidade, ou algumas burocracias, ...) devem ser obedecidas como se obedece a ordem de um pai, simplesmente em honra à autoridade que a promulgou.

Porém essas leis não tem valor próprio, não são moralmente boas ou más, e é isso que o jeitinho brasileiro compreende direitinho (com o perdão do trocadilho).

O brasileiro, com muita facilidade, compreende que a letra desse tipo de lei não é absoluta, não obriga como a lei natural e que serve apenas para organizar duas ou mais condutas. Ora, se o semáforo serve para organizar quem pode ou não passar (o meu carro, o outro carro ou o pedestre), quando, às 3:30 da manhã, só eu estiver na rua não existe nada para ser organizado, eu posso passar com o meu carro sem parar no sinal vermelho e não estarei cometendo nenhum pecado.

A coisa parece ser simples mas para o pessoal que não crê em uma lei natural e que prega que o direito deve ser obedecido simplesmente porque está escrito isto não está claro e, provavelmente, vão dizer que o sujeito tem sim que parar no sinal as 3:30 da manhã. Eu mesmo conheço pessoas que esperam o sinal para pedestres abrir para atravessarem (e na faixa) mesmo que não tenha carro vindo em nenhuma direção.

Já em casos mais extremos, em que haja afronta direta à lei natural, a lei positiva pode, e em algumas circunstâncias deve, sim ser descumprida.

Tal é o caso, p.ex, de uma lei que preveja o desarmamento obrigatório; ou que obrigue padres, pastores, rabinos, etc... a aceitar calados qualquer drag queen que queira permanecer durante as respectivas celebrações; ou ainda que institua uma poupança solidária, que rouba o dinheiro para redistribuí-lo; ou, por fim, impostos abusivos, que inviabilizem ou dilapidem a propriedade privada. Isso para mencionar somente leis que afetarão aqueles que discordam delas, mas mesmo leis que não afetem diretamente a conduta de quem discorda podem e devem ser consideradas ilegítimas e, por isso, devem ser combatidas. O Aborto é um caso clássico.

Como eu disse acima: a lei positiva deve estar sempre voltada para o Bem comum, que em última instância é Deus, e sempre conforme à lei natural. Se uma norma positiva vai contra esses dois princípios ela é ilegítima e os membros da comunidade em que ela é promulgada devem lutar por sua revogação ainda que isso fira interesses, mesmo que de uma maioria.

"Ok. Mas devemos desobedecer uma lei posta por uma autoridade legítima? Isto não é pecado?"

Primeiro é sempre bom lembrar que a regra é a obediência, como aquela devida a nossos pais, entretanto, como demonstrei acima, no caso de afronta de uma lei positiva à uma lei natural o católico pode ter a consciência (e guardem essa palavra) tranqüila de que não estará cometendo nenhum pecado.

"Mas ao invés de simplesmente desobedecer não deveríamos lutar para conscientizar as pessoas e tirar a lei anti-natural do ordenamento jurídico?"

Uma coisa não interfere na outra. O caminho ordinário para que alguém questione uma lei é o Judiciário, que deve (ou pelo menos deveria) fazer justiça, o que implica necessariamente na adequação à lei natural impedindo a aplicação daquilo que lhe é atentatório. Entretanto, ainda que a lei seja mantida ela pode, ou deve, ser desobedecida.

Da mesma forma, a concientização de outras pessoas de que determinada lei é contrária à lei natural é um ato meritório, porém é importante esclarecer que a desobediência nestes casos não é uma simples forma de protesto, é muito mais o reflexo da lei natural e é pessoal. Já uma coisa diferente é a concientização coletiva que é muito salutar mas pode nem surtir efeito.

O ideal é, realmente, que a tal lei seja retirada do ordenamento jurídico pois o direito deve servir para o progresso da sociedade e não para a sua corrupção, entretanto estou tratando de uma lei positiva que ainda estivesse vigente e que pela regra do direito positivo deveria ser cumprida. Há casos em que não dá para esperar que a concientização faça efeito e que a pressão leve o legislador a retirá-la e nem isso é necessário.

"Mas como assim: pode ou deve? Não seria sempre um dever?"

No caso de uma lei ilegítima que lhe afete diretamente mas cuja obediência não seja ocasião de pecado, a obediência pode ser recebida como um sacrifício. Por exemplo, obedecer uma lei tributária confiscatória ou que lhe obrigue a passar fome pode ser recebida como mortificação, porém, no mesmo caso, se você tem filhos para criar não pode deixá-los morrer de fome, é sua obrigação como pai prover seu sustento, portanto a desobediência ai é um dever. Da mesma forma uma lei que permita o aborto ou o descarte de embriões deve sempre ser descumprida pois sua conseqüência é sempre pecaminosa.

"Por outro lado, o descumprimento de leis promulgadas por autoridades legítimas e confirmadas pelo Judiciário, sem qualquer trabalho de conscientização da comunidade, não descambaria em uma anarquia? Em outras palavras, se todos começarem a copiar a conduta desobediente, sem ao menos saber racionalmente o porque, não cairemos no caos?"

Quando falamos de lei natural falamos de algo que está infundido na consciência de todo homem, muito embora muitas vezes possa estar obnubilada (sempre quis usar essa palavra) por ideologias. Assim, na prática essa desobediência acaba ocorrendo naturalmente sem nem sequer ser racionalizada como estou fazendo aqui (temos ai o comércio informal, p.ex, que é uma desobediência à lei que criou o ICMS e o IR, à obrigação de inscrição fiscal, emissão de notas e mais uma pá de leis acessórias). Se o abuso for muito grande, uma hora ou outra há uma reação (violenta ou não), também de forma natural, para que as coisas entrem nos eixos (vide o testemunho dos países comunistas).

Não se trata de atacar a ordem com o caos, trata-se de atacar a ordem com A Ordem, não se está simples e deliberadamente desobedecendo a autoridade mas recusando eficácia à uma lei ilegitima. Não me refiro a um gosto pessoal, nem ao descumprimento com base em achismo; estou falando da possibilidade de desobediência de uma lei positiva incompatível com a lei natural, como o sujeito vai saber justificar a ilegitimidade é um outro problema. O que é imprescindível é um forte sentimento da lei natural. Uma pessoa com pouco conhecimento geral e pouco afeito à racionalizações mas com uma profunda base moral terá, as vezes, muito mais facilidade de agir corretamente do que alguém com pós-doutorado que tenha sido criado em uma família modernosa. P.ex, Um pequeno agricultor, analfabeto de pai e mãe, que vê sua terra sendo invadida não pensará duas vezes em defendê-la, mais do que saber que isso é errado ele sente que assim o é. Da mesma forma, se ninguém o obrigar ele não vai deixar de colocar comida na mesa dos seus filhos para pagar um imposto. Porém, esse mesmo senso moral o diz que ele tem que obedecer a autoridade e ele o fará sempre que possível e de bom senso. Não há anarquia, há a percepção natural de algo maior.

Outro exemplo é o da lei "anti-homofóbica", alguém que coloque para fora do templo um homem vestido de mulher, ainda que não saiba racionalmente que a lei é ilegítima, agiu corretamente.

Há risco de que o descumprimento de leis leve à uma anarquia? Sim, mas não no caso em tela e nunca por culpa da lei natural. A hipótese aqui é a de uma pessoa que descumpre justamente por conhecer ou "sentir" a verdadeira Ordem das coisas, a sua verdadeira hierarquia, e daí pode nascer um certo desgosto à pessoa que promulgou a lei, mas nunca contra a autoridade em geral. Ao contrário, se a desobediência se dá porque o sujeito é contra o governo, ou contra o panorama econômico, etc... há risco sim de que tudo acabe em uma espécie de anarquia, inclusive com prejuízo para o senso moral do sujeito. Mas é muito mais fácil que isso aconteça com um universitário-comuno-médio-padrão qualquer do que com o tal agricultor do exemplo anterior. Aquele terá suas justificativas racionais, ideológicas e/ou egoísticas, já este submeterá a ordem jurídica à Ordem maior, as vezes sem qualquer teorização.

No caso de um ordenamento como o brasileiro, p.ex, o número absurdo de leis acaba descolando um pouco a legislação positivada da lei natural, isto porque é comum que haja o descumprimento de algumas leis (estou usando a palavra lei de forma genérica, significando qualquer ato normativo) não necessariamente ilegítimas simplesmente por ser impossível cumprir todas, com isto as pessoas acabam perdendo, ou tendo embaçada, a noção de que a fundamentação de certas leis está não no papel, no governo ou no povo, mas em algo maior e Absoluto, ou seja, acaba havendo uma relativização da lei e, por fim, o descumprimento de leis naturais. Ai sim temos um grande risco de anarquia, porém isso não é culpa da lei natural mas do ordenamento (não só, é verdade).

Se alguém deixa de cumprir a lei positiva porque ela é conflitante com a lei natural, a consciência moral dessa pessoa se refina e não deturpa, afinal ela fez o que a moral lhe ensinou. Isso é diferente de apenas cumprir o que lhe convém, ai sim teremos uma degradação moral e no final das contas esse sujeito acabará descumprindo também a lei natural.



"tuu totus ego sum, et omnia mea tua sunt"