quinta-feira, 29 de maio de 2008

Luto


Mais uma vez esse blog está de luto... desta vez pela declaração de constitucionalidade do uso de células-tronco embrionárias com a destruição do embrião.

O luto, é claro, é pelos milhões de seres humanos em estado embrionário que serão usados em pesquisas ou simplesmente descartados (o que não é algo novo para a ciência, basta lembrar os milhões de judeus que morreram em nome de experiências científicas em campos de concentração), mas este luto é também pela sociedade brasileira.

O embrião que for destruído não sentirá dor e seu destino será o Céu (ou o limbo, segundo alguns teólogos, o que em todo caso não é ruim), mas a sociedade brasileira deu mais um passo para o fundo do poço moral.

Em resumo, o que o STF fez no dia de hoje foi afirmar que ainda que haja dúvida sobre o início da vida humana ou até sobre o que seja isto (alguns dos Ministros a relativizaram a tal ponto que chegaram a dizer que vida humana é tudo aquilo que há), ela pode ser delimitada por um tribunal (isto também não é coisa nova, a suprema corte americana já afirmou que negros não eram humanos), portanto, a barreira jurídica para a relativização da vida foi quebrada nesse julgamento. Daí para se considerar não-humanos fetos com qualquer idade é um pulo, assim como é um pulo para considerar não-humanos, ou menos humanos, proprietários de terra (como foi feito, embora não legalmente mas na prática, na antiga União Soviética) ou um pulo para considerar não-humanos, ou menos humanos, os católicos, um pulo, enfim, para o abismo.

Aliás, um fato interessante foi narrado por uma das Ministras, que informou que já não está mais em voga os direitos da pessoa humana, tendo sido esta definição trocada pelos "pensadores" por uma mais abrangente: direitos da espécie humana. Ou seja, a pessoa singular, infinita e insubstituível está sendo paulatinamente posta de lado em nome de um ente ficcional, de uma generalização que só existe na abstração do pensamento, a "espécie humana". Isto é terrível, uma inversão diabólica de valores, ao invés de proteger cada uma das vidas, cada um dos indivíduos, pois são eles que compõem a espécie humana, se protege a esta última e o seu progresso, transformando cada uma das vidas que a compõem em meras coadjuvantes (mais uma vez a idéia não é nova,começou com Giambattista Vico, passou e se desenvolveu em Hegel, encontrou uma face monstruosa em Marx e uma prática violenta em seus seguidores e sucessores).

Enfim, com o julgamento de hoje, meus prezados, a vida concreta, individualizada em cada pessoa, deixou de ser para o ordenamento jurídico brasileiro o seu valor primordial, foi substituída por um vocábulo aberto a interpretações, relativizável portanto. É o começo de uma triste parte da história brasileira, que caminha agora para a liberalização do aborto em qualquer fase da gravidez e, se não for impedida, vai desembocar na total ruína do nosso país. Deus nos ajude!


"tuu totus ego sum, et omnia mea tua sunt"

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