sexta-feira, 13 de abril de 2012

Dia de Luto

Está inaugurada no Brasil a caminhada rumo ao massacre de inocentes.

Esta primeira linha pode soar muito trágica, mas não se enganem, é disso mesmo que se trata: o primeiro passo na tentativa da liberalização total do aborto e, depois, da eutanásia e da eugenia pura e simples, mesmo de pessoas já crescidas.

A decisão de ontem do STF é um problema muito complexo, que envolve questões políticas, científicas, filosóficas e humanas.

Politicamente o STF, que deveria ser o Guardião da Constituição, resolveu que quando o Legislativo não quer fazer a lei que lhes agrade, eles mesmos fazem. O recado é claro: não queremos saber de democracia quando o assunto são os nossos interesses. E daí se as leis devem ser propostas e votadas pelos representantes do povo? E daí se o povo é em sua maioria acachapante contra o aborto? Nós somos o verdadeiro "povo", somos a vontade popular e é de nós que "todo poder emana" (art. 1°, parágrafo único da Constituição Federal), nós, os 8 ministros do STF.

É o primeiro problema, mas não o mais grave. Foram contra a vontade do povo brasileiro, são traidores da pátria. Jogaram no lixo a democracia, são, portanto, seus inimigos. Mas a esfera política é só a mais abstrata e sem importância de todas.

Cientificamente eles bateram o martelo sobre a vida e a certeza científica, tendo querido fazer isto ou não. A ministra Rosa Weber até tentou deslocar a discussão do plano científico, lembrando que a Teoria da Ciência mais atual retira o seu caráter de certeza absoluta, para substituí-lo por uma mera probabilidade. Porém, neste caso, a questão jurídica está intimamente ligada à científica. O diagnóstico médico será usado como única prova necessária para o aborto.

Quem em sã consciência acredita 100% em um diagnóstico médico? Diariamente quantos diagnósticos se mostram errados? Qual a percentagem do encéfalo não deve existir para se considerar anencefalia? E os casos concretos de bêbes diagnosticados como anencefálicos que sobreviveram mais de um ano? Quem fiscalizará o diagnóstico? Quem garante que o médico não deixará suas convicções influenciarem para o diagnóstico que "poupa o sofrimento da mãe"? Alguns ministros, depois de feita a besteira, se aperceberam do tamanho do problema e tentaram fazer com que o relator mudasse seu voto. Em vão. Segundo ele: "se houver erro de diagnóstico se processa depois".

Filosoficamente também tivemos o estabelecimento de entendimentos perigosos, vou citar os que lembro de cabeça: 1 - A vida do feto é inferior ao sofrimento da mãe - ora, se por causar sofrimento uma vida pode ser terminada, quem garante que no futuro um filho problemático, alguém com Sindrome de Down, ou cego, mudo, surdo, com alguma deficiência e incapacidade não será abortado ou assassinado legalmente?; 2 - A vida não é vida quando a morte é iminente (parece brincadeira, mas um ministro disse que a anencefalia é fatal em 100% dos casos, como se qualquer vida não fosse) - ora, neste caso pessoas com doenças em estado terminal também podem ser assassinados; 3 - "A vida não é para a morte, a vida é o espetáculo de viver" - É duro saber que saiu da boca de um ministro da Suprema Corte uma coisas destas, mas é pior ainda saber que, seguindo este raciocínio, quem não vai participar do espetáculo pode morrer: quem vai sofrer, quem não tem condições de uma vida digna, crianças que vão passar fome, quem escolhe sofrer por amor ao próximo, etc...

Tudo isto é muito ruim e muito perigoso, mas a pior conseqüência do malfadado julgamento de ontem é, sem dúvidas, humano. Quando o ser humano aceita discutir sobre o valor da vida, quando ele permite que critérios utilitários sejam usados para dar valor a uma pessoa, ou não reconhece como tal um ser a quem falta apenas um pedaço, quando não vê mais valor no sofrimento, é porque se chegou ao fundo do poço. Não há civilização, sociedade, país ou comunidade que se mantenha sobre esses "valores", porque deixaram de se preocupar com a humanidade. São recentes na história do mundo exemplos de fracassos iguais: Alemanha nazista e comunismo de modo geral.

Como bem disse meu querido pastor, D. Luíz Mancilha Vilela, o sofrimento muitas vezes torna a família mais humana e cheia de compaixão, ao passo que o aborto torna as pessoas envolvidas menos humanas.

E nós, o que devemos fazer? Primeiro e antes de tudo rezar, não só para esta causa, mas de maneira a cultivar uma vida interior, como eu disse no último post. Segundo, nunca, jamais, esquecer da pessoalidade dos envolvidos. Abstrair a humanidade do outro lado já é entrar no seu jogo. Terceiro, não se esquecer do sofrimento da mãe e da família. Na quase totalidade dos casos a mãe está sob forte abalo e, embora o ato seja um crime, ela não é um monstro. Por fim, dentro das suas capacidades se formar sobre o assunto desde outros pontos de vista e evitar dar argumentos religiosos. Não se esqueça de que quem defende o aborto não é católico e pouco vai ligar para a Revelação, isto vai ajudar apenas a criar uma dicotomia entre razão e fé, que não é verdadeira e agrava os preconceitos do outro lado.

Diante do calor do momento vou publicar este texto sem revisar, mais tarde faço alguma alteração se achar necessário.


"Tuu totus ego sum, et omnia mea tua sunt"

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