quarta-feira, 9 de maio de 2012

Não quero uma Igreja de direita


O chato de discordar das opiniões "oficiais" é enfrentar a qualificação quase automática de quem é "politicamente conscientizado". Se eu não concordo com aquilo que geralmente todo mundo acha bom eu só posso ser de direita, quando não ultra-direita. Já perdi as contas de quantas vezes me colocaram nesse grupo.

E não é só comigo. Eu já vi muitas pessoas se referindo a uma tal igreja de esquerda e uma tal igreja de direita. A primeira geralmente ligada à TL, PJ, CEB, etc, e a segunda identificada com quem não se encaixa nas hipóteses anteriores.

O problema, meus queridos, é que como diz um amigo: esquerda e direita são conceitos que nasceram na Revolução Francesa, eu não gosto é da própria Revolução.

Creio que foi Chesterton quem disse uma vez que achava uma bobagem os homens se dizerem de esquerda ou de direita (alguém lembra em que livro foi? procurei por alto no Ortodoxia mas não achei). Eu, como não poderia deixar de ser, concordo e acrescento: é uma bobagem e extremamente perigoso. Basta ver os Partidões e a escravidão das consciências que fazem parte deles. Quanta gente boa que assina embaixo de coisa como o Aborto só porque o Partido quer assim? Conheço algumas.

Se é assim no individual, imaginem como me sinto quando isto é aplicado à Igreja. A idéia de uma igreja de esquerda me entristece tanto quanto a de uma igreja de direita, nenhuma das duas quer o Evangelho, nenhuma das duas é livre, nenhuma das duas pode ser de Cristo. A Igreja é que deve julgar a justiça das idéias e não ser direcionada por elas. Se não seguir só o Cristo, não é Igreja, pronto falei.

Eu creio é na Igreja Católica Apostólica Romana, na Igreja de Cristo, no que foi sempre ensinado por Ela através do seu Magistério. Se isto as vezes agrada à direita ou à esquerda, melhor para elas, mas não me faz gostar nem um pouco mais de uma ou outra, desgosto das duas e me enoja a idéia de ter que pensar dentro dos quadrinhos de uma delas. Desta forma, podem me chamar de ultra-direita ou ultra-esquerda, desde que o "ultra" signifique que eu estou fora das duas.

Portanto, não, eu não quero uma igreja de direita, tanto quanto não quero uma igreja de esquerda. Para mim as duas podem ir juntas, abraçadas, para o raio que as parta. Rejeito a mera idéia de uma Igreja que esteja submetida a uma ideologia. Quero A Igreja.

p.s: a título de esclarecimento devo dizer que até acho possível (embora muito complicada devido às regras atuais) uma participação política partidária, desde que exista liberdade de consciência, que não haja incompatibilidade entre a Fé e a ideologia do partido e que a Doutrina Social da Igreja paute a atuação e não as diretrizes partidárias. Em suma, seria necessário quase um santo.


"tuu totus ego sum, et omnia mea tua sunt" 

Um comentário:

André Góes disse...

Isso aí cara! Concordo!
Nada de direita e esquerda!

O que existe é gente que entende e gente que não entende a vontade principal de Cristo.

Gente ponderada e gente positivista, que gosta de ficar discutindo liturgia, e o sexo dos anjos, enquanto o mundo urge, como no primeiro século, por uma evangelização kerigmática.

Gente que, como aconteceu com várias heresias dos primeiros séculos, dá um pulo pra trás de repugnância à "TL", e cai no outro extremo, e não se aceita tampouco se enxerga nessa posição, buscando legitimação enquanto o mundo entra em crise, sem mais ouvir falar de Deus.

Gente que se prende a uma palavra, fora do contexto de uma frase (e que dirá de um contexto maior), sem prestar atenção no conjunto da hermenêutica, que busca foco, não dispersão, e considera o conjunto da tradição, do magistério e das escrituras, e não um ou outro, em particular, quando convém.

Tem gente que reza muito, e não faz nada. Tem gente, por outro lado, acreditando-se pró-ativo demais, sem, contudo, testemunhar Cristo.

No final, não há direita e esquerda. Há é falta de entendimento, e dispersão (e quem sabe orgulho), que dividem a comunidade cristã, e tiram o foco da evangelização eficaz (função maior da Igreja) e da pessoa de Cristo.

Abraços!
A Paz de Cristo!
André Góes