"Indagou de seus botões, como fizera muitas vezes, se não era lunático ele próprio. Talvez um lunático seja apenas uma minoria de um. Antigamente, fora sinal de loucura acreditar que a Terra gira em torno do Sol, hoje, crer que o passado é inalterável. Podia ser o único a ter aquela crença, e sendo sozinho, lunático. A idéia de ser lunático, porém, não o perturbava grandemente. O horror era estar enganado.
Tomou o livro escolar e olhou o retrato do Grande Irmão que formava o frontispício. O olhar hipnótico fixou o de Winston. Era uma força enorme, fazendo pressão - algo que penetrava o crânio, se chocava contra o cérebro, amedrontava e fazia perder a fé, persuadia quase a negar a evidência dos sentidos. No fim, o Partido anunciaria que dois e dois são cinco, e todos teriam que acreditar. Era inevitável que o proclamasse mais cedo ou mais tarde: exigia-o a lógica de sua posição. Sua filosofia negava tacitamente não apenas a validez da experiência como a própria existência da realidade externa. O bom senso era a heresia das heresias. E o que mais aterrorizava não era que matassem o cidadão por pensar diferente, mas a possibilidade de terem razão. Por que, afinal de contas, como sabemos que dois e dois são quatro? Ou que existe a lei da gravidade? Ou que o passado é inalterável? Se tanto o passado como o mundo externo só existem na mente, e se a mente em si é controlável... então?" (1984, George Orwell, grifos meus)
Esse pedacinho de texto estava aqui aguardando meu humor. Parece que meu humor achou que era hora de publicar.
O passado já é constantemente alterado, nas nossas escolas mesmo, diária e despudoradamente. A inquisição ganha umas mil e poucas mortes por dia, mata mais hoje do que jamais matou em séculos. A Rússia é só a experiência fracassada de um falso marxismo, assim como a China, Coréia do Norte, etc., em pouco tempo serão, ou melhor terão sido, apenas mais uma exploração capitalista e conservadora. Che é um santo, hoje já sem dúvidas, mas deve acabar subindo aos altares breve breve.
A realidade vai sendo expulsa da mente humana, a golpes de língüa, isso mesmo, de língüa, é o leãodechácara (agora é assim? tudo junto mesmo?) do politicamente correto, das alterações de significado, das convenções. "Homem", agora, é ofensivo, se o sujeito quiser ser chamado de "mulher" é isso que ele é, o vocábulo é um estado de espírito, uma ficção, não pode ser imposto só porquê o moç... o sujeit.., o ser humano nasceu com órgãos sexuais masculinos (não, querer ser mulasemcabeça não vale... ainda.. mas é assim mesmo que escreve agora? mulasemcabeça, sério? espero que esteja errado). Casamento é essencialmente ligado à procriação? quem falou? Muda o dicionário, dilata o significado, junta uns sinônimos, e voilá, casamento é todo e qualquer juntamento (homem-homem, homem-bode, homem-bananeira,etc.) e o antigo conceito deixa de existir. Uma imobilização lingüística, tipo jiu-jitsu.
O Poder governamental é isso ai, não admite concorrentes, esmaga todos, mesmo que seja a própria realidade. Não me surpreenderei quando, no fim da vida, eu ler no livro escolar do meu neto: 2 + 2 = 5.
...Mas o que estou dizendo? Não vou ter netos, família vai ser só mais um conceito ultrapassado.. Enquanto isso eu aproveito para indicar o livro. 1984, George Orwell, vale a pena uma lida.
"Tuu totus ego sum, et omnia mea tua sunt"
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