quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Missa Tridentina em Vitória

Depois da entrega da petição ao Excelentíssimo Arcebispo de Vitória, tivemos a já esperada notícia da negativa. A decisão foi transmitida pessoalmente por um padre da Arquidiocese, que, entretanto, ouviu nossas razões e nos disse que o assunto não morreu.

Não morreu, mas parece estar muito tímido. Infelizmente não tivemos mais nenhuma notícia digna de nota, apenas alguns mais exaltados (passado o susto eu acho que até entendo) publicando nota em jornal, mas parou nisso.

Enfim, continuamos precisando de orações.


"Tuu totus ego sum, et omnia mea tua sunt"

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Com crucifixos ou sem crucifixos?

Faz parte da essência da Modernidade o gostar excessivamente de novidades. Na verdade, na verdade, essa tendência existe em todo homem, que é, salvo quatro únicos exemplos (a saber: Adão, Eva, Jesus e Maria), pecador por natureza. O que a Modernidade faz é se encarregar de potencializar essa característica, desordenando, entre outras coisas, a Felicidade, ensinando que, ao invés da única coisa que poderia nos saciar (Deus), temos que buscá-la nas criaturas (dinheiro, fama, prazer, comida, etc.), que, por suas naturezas finitas, não dão conta da tarefa que lhes foi confiada e deixam sempre a impressão de prévia daquela que será A Verdadeira. É ai que entram as novidades, que trazem consigo sempre esta (falsa) esperança.

Neste país, onde a cultura fortemente católica e algumas outras peculiaridades impediram a modernidade de encontrar solo muito fértil, nossos "modernos" sempre foram obrigados a importar novidades "intelectuais", foi assim com o positivismo, foi assim com o comunismo e com tantas outras barcas furadas. A mais recente delas é a onda de "defesa da laicidade do Estado", que, entre outras besteiras, rendeu recentemente uma "ordem" do Ministério Público Federal para que se retirassem todos os crucifixos das repartições públicas do Estado de São Paulo.

Repare que, como todas as antecessoras, esta última é inimiga mortal da cultura brasileira, que é católica sem carteirinha (porque não precisa de nenhuma chancela do Estado para sê-lo), e quer vê-la desbancada pela única "religião" suportada pela Modernidade, o ateísmo extremista-radical-suicida.

Mais uma vez: dizer que o Estado não tem uma religião oficial é uma coisa, dizer que ele não deve representar o que o seu próprio povo pensa e crê é outra completamente diferente. Além disto, uma escolha deste tipo não é nunca pela "igualdade" entre as "religiões", mas a substituição de uma significativa para a população de um país (tanto no passado, quanto no presente), por outra "professada" por uma ínfima parte dos filhos da Terra de Santa Cruz, o ateísmo.

Como alguns crêem que o inimigo do meu inimigo é meu amigo, acabam desavisadamente abraçando a mesma causa, como é o caso de alguns protestantes, sem saber que desta forma assinam a própria sentença de morte, compactuando com um movimento que mais à frente não exitará em esmagá-las.

Enfim, tudo isto para trazer um ótimo texto publicado pelo Prof. Carlos Ramalhete na Gazeta do Povo sobre o assunto. Segue:

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São Paulo ou “Seu” Paulo?

Publicado em 09/08/2009 | Carlos Ramalhete

O Ministério Público Federal (MPF) mandou tirar os crucifixos das repartições do estado de São Paulo, alegando que a sua presença ofenderia os não católicos. Mas... será que não deveríamos, então, falar do estado de “Seu” Paulo? Mais ainda, do estado do inominável, na medida em que São Paulo, em homenagem a quem o estado foi batizado, ops, nomeado, só recebeu esta homenagem por ter sido apóstolo cristão?

Os judeus ortodoxos dão graças a Deus todos os dias por não terem nascido não judeus (“gói”). São Paulo, ou “Seu” Paulo, escreveu que “não há mais judeu nem grego”. A julgar pelo pensamento do MPF do estado Tal, deve haver um monte de suscetibilidades feridas nesta história. Melhor mudar o nome do estado. Ah, Santa Catarina também dança, assim como todas as cidades com nome de santos. O Estado do Amazonas, que recebeu este nome em homenagem a um povo da mitologia grega, também pode ofender quem não acredita nele. O Rio de Janeiro, por trazer no nome do mês (que também teria que mudar) uma referência à divindade romana Janus, o deus de duas caras, também deve provocar comichões e abespinhar suscetibilidades. Ih, qual será o dano ao turismo provocado pela retirada, à moda Taleban, da imensa estátua do Cristo Redentor que ofende os não católicos que olhem para cima na antiga capital do país?

Creio ser bastante evidente, para quem não faz parte de uma minoria ínfima de gente cuja sensibilidade à flor da pele torna a convivência cotidiana um exercício de masoquismo e suscetibilidades feridas, que o MPF pisou na bola. Epa, eu não gosto de futebol. Devo proibir esta expressão? Não. Se eu não gosto de futebol, o problema é meu. Não posso me ofender com a onipresença do jogo e de suas metáforas.

Ainda mais que futebolista, contudo, a nação brasileira é culturalmente católica. Os nomes de santos são os nomes das pessoas, e a própria noção de bem e de mal é definida em moldes católicos; podemos mesmo dizer que o padrão da sociedade é católico.

Para a imensa maior parte dos brasileiros, católicos ou não, um crucifixo é um símbolo da Justiça, do Bem. Ver uma ofensa a outras crenças na presença de um crucifixo implica necessariamente em vê-la nos nomes de estados e cidades, nos nomes próprios das pessoas, na organização social do país, nos dias da semana, nos meses, no preâmbulo da Constituição Federal...

Querer proibir a presença do crucifixo implica em querer proibir um dado constitutivo da própria nacionalidade brasileira, importar uma noção a nós estranha do que seja a Justiça, o Bem, o certo e o errado. O Brasil não surgiu nem subsiste em um vácuo; temos uma cultura própria, com base lusitana e católica, que independe até mesmo da própria religião seguida por cada brasileiro.

O brasileiro protestante, o brasileiro espírita, o brasileiro judeu, muçulmano ou ateu é em grande medida culturalmente católico. Cada um deles passou a vida dentro de uma sociedade que define seus padrões de comportamento dentro de uma matriz católica e que não pode ser explicada ou compreendida sem constante referência à catolicidade de sua origem, bem como à língua portuguesa, a costumes africanos e indígenas etc.

Ofender-se com símbolos católicos significa, em última instância, ofender-se com o Brasil, significa negar as origens e a presença da cultura brasileira, com todos os seus matizes. Mais ainda: para desgosto dos católicos mais ortodoxos, a percepção brasileira típica destes símbolos católicos frequentemente é operada em chave sincrética, vendo nos santos orixás africanos ou entidades espíritas.

O que neles não se vê, o que apenas o MPF vê, é um instrumento de proselitismo católico. Um crucifixo não faz de um lugar ou de uma pessoa algo católico, tal como o Rio Amazonas não leva ninguém a tomar como verdade a mitologia grega. As imagens sacras, no Brasil, são percebidas como símbolos do Bem e do Justo, não como afirmações de uma dada fé. Melhor seria se o MPF deixasse de lado esta estranha “cruzada” contra os crucifixos e procurasse fazer o bem e promover a justiça.

Carlos Ramalhete é filósofo e professor. <profcarlos@hsjonline.com>

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